Os pais do estudante de medicina Marco Aurélio Cardenas Acosta, morto por policiais militares de São Paulo em novembro de 2024, vão apresentar uma denúncia oficial à Organização das Nações Unidas (ONU) nesta quinta-feira (19). A iniciativa busca responsabilizar o governo paulista pela morte do jovem, de 22 anos, e será feita em conjunto com a ONG Conectas Direitos Humanos durante a 59ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, na Suíça.
Julio Cesar Acosta Navarro e Silvia Mônica Cardenas Prado, pais de Marco, levarão à ONU fotos, documentos e testemunhos que, segundo eles, provam que o filho foi vítima de assassinato, omissão de socorro, racismo e xenofobia. O pai, que é médico e de origem peruana, afirma que a abordagem dos policiais foi motivada por discriminação social.
“Este caso é uma situação de xenofobia, de racismo, de maldade. Ele foi escolhido por parecer pobre, por estar de chinelo e sem camisa, mesmo em um bairro de classe média como a Vila Mariana”, afirmou Navarro, que já está na Europa para participar da audiência.
Marco Aurélio foi morto com um tiro à queima-roupa, após ser perseguido por dois policiais militares por supostamente ter dado um tapa no retrovisor de uma viatura. Câmeras de segurança do hotel onde estava hospedado mostram o estudante correndo, desarmado, sendo agredido e, em seguida, baleado na escadaria do local.
A versão inicial da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) alegava que Marco teria tentado agredir os policiais e tomar suas armas. Porém, o vídeo contradisse esse relato, mostrando que ele não ofereceu resistência.
“Essa versão caiu por terra quando o vídeo do hotel veio à tona. Mesmo assim, os policiais não foram presos. Eles foram liberados e voltaram a patrulhar a mesma região onde mataram meu filho”, denunciou o pai.
A denúncia à ONU cobra não apenas a responsabilização dos policiais envolvidos, mas também medidas estruturais para conter a violência policial no Brasil, incluindo assistência às vítimas e seus familiares.
Esta não é a primeira denúncia internacional contra o governo de São Paulo por abuso policial. Em março de 2024, a gestão do governador Tarcísio de Freitas já havia sido alvo de críticas pela ONU por conta da alta letalidade em operações na Baixada Santista, que resultaram em pelo menos 56 mortes.
Em nota, o governo de São Paulo declarou lamentar a morte do estudante e informou que o policial foi indiciado por homicídio doloso e afastamento das atividades operacionais. O inquérito foi concluído e encaminhado à Justiça.
A família Acosta, no entanto, continua em busca de Justiça. “Meu filho foi arrancado de mim. A Polícia Militar não imaginava que esse jovem era filho de cientistas e que nós não ficaríamos calados”, disse Navarro. “Se outros pais não estão aqui, não é porque não amam seus filhos, é porque não têm condições ou vivem com medo.”
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