O humorista Léo Lins quebrou o silêncio nesta quinta-feira (6) e se pronunciou nas redes sociais após ser condenado a oito anos e seis meses de prisão, além do pagamento de multa, por realizar um show com conteúdo considerado ofensivo a grupos minoritários. Em um vídeo publicado nas redes, Leo afirmou que a sentença desconsidera o caráter artístico e ficcional da apresentação.
“Antes de me pronunciar, eu quis ler toda a sentença da juíza que condenou um humorista — no caso, eu — a mais de 8 anos de prisão e quase R$ 2 milhões de multa. Esse vídeo não é de piada. Aqui fala Leonardo de Lima Borges Lins, e não o comediante Léo Lins. Uma pessoa cômica criada ao longo de anos, que faz piadas ácidas e críticas”, disse o artista, que gravou o vídeo em casa.
O comediante explicou que o palco é um espaço de interpretação artística, e que suas apresentações usam figuras de linguagem como metáforas, ironías e hipérboles. “Talvez nem todos saibam, mas o humorista num palco interpreta um personagem. Uma análise literal desse texto não se aplica à estrutura do cômico”, declarou.
Léo Lins também questionou o papel do Judiciário na interpretação de obras artísticas, classificando a decisão como resultado de uma “cegueira racional”. Para ele, a sentença reflete um ambiente hostil à liberdade artística e ao debate. “Estamos vivendo uma das maiores epidemias dos últimos tempos: a da cegueira racional. Os julgamentos são feitos puramente baseados em emoção”, afirmou.
Além disso, o humorista alertou para os riscos de decisões como a que o condenou. “Concordar com sentenças como essa é assinar um atestado de que somos adultos infantilizados, incapazes de discernir o que é bom ou ruim para nós. Precisamos de um Estado dizendo do que podemos rir, o que podemos ouvir, comer, falar, e até um dia, o que podemos pensar”, concluiu.
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A decisão da juíza Bárbara de Lima Iseppi, da 3.ª Vara Criminal Federal de São Paulo, que condenou Léo Lins, gerou repercussão internacional. O jornal norte-americano The Washington Post afirmou que a sentença representa “o mais recente esforço do Judiciário brasileiro para impor limites à liberdade de expressão, especialmente nas redes sociais”. A publicação também destacou que, nos últimos anos, o Supremo Tribunal Federal tem bloqueado contas online de pessoas acusadas de espalhar desinformação.
O Post também citou juristas e editoriais da imprensa brasileira, como o jornal O Globo, que opinou: “É absolutamente justificável repudiar suas piadas; são de péssimo gosto. Mas elas não colocam ninguém em risco. São piadas — não crimes”.
O jornal conclui que “o caso está se tornando o novo campo de batalha na contínua luta brasileira sobre os limites da liberdade de expressão”.
Já o argentino Clarín, um dos principais periódicos da América Latina, classificou a condenação como uma “polêmica que pode criar precedentes”. A reportagem do veículo destacou que, no show que motivou a sentença, o comediante “faz piadas ofensivas sobre inúmeras minorias: afro-americanos, homossexuais, portadores de HIV, indígenas, pobres, judeus, pessoas com deficiência, obesos e muito mais”.
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