O Brasil deu um passo estratégico em direção à autonomia tecnológica ao criar um grupo técnico para estudar a viabilidade de desenvolver seu próprio sistema de geolocalização por satélite. A medida visa reduzir a dependência de sistemas estrangeiros, como o GPS, operado pelos Estados Unidos. A iniciativa foi oficializada pela Resolução nº 33, publicada no início de julho pelo Comitê de Desenvolvimento do Programa Espacial Brasileiro.
Formado por representantes de 14 instituições, incluindo ministérios, Força Aérea, agências reguladoras e a Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil, o grupo terá 180 dias — até janeiro de 2026 — para apresentar um relatório ao Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, abordando riscos, custos e benefícios da criação de um sistema nacional de posicionamento e navegação por satélite.
Autonomia estratégica e debate sobre segurança nacional
Segundo Rodrigo Leonardi, diretor da Agência Espacial Brasileira (AEB), o objetivo é compreender os gargalos técnicos e econômicos envolvidos. “Queremos avaliar se o Brasil precisa de um sistema global ou regional, e se isso é viável diante dos investimentos necessários”, explicou em entrevista à Agência Brasil.
A discussão ganhou relevância após rumores em redes sociais sobre uma possível restrição do sinal de GPS ao Brasil, em meio a tensões comerciais com os EUA. Embora especialistas descartem essa hipótese como improvável, o episódio acendeu o alerta sobre a vulnerabilidade brasileira.
“O grupo já vinha sendo planejado antes desses rumores. A iniciativa não tem relação direta com as medidas anunciadas pelos EUA, como a tarifação de produtos brasileiros”, esclareceu Leonardi.
GNSS e sistemas alternativos
Apesar da predominância do GPS, ele é apenas um dos sistemas globais de navegação por satélite (GNSS). Há ainda o Glonass (Rússia), Galileo (União Europeia) e BeiDou (China), todos com cobertura global e disponíveis no Brasil. Sistemas regionais como o NavIC (Índia) e QZSS (Japão) também oferecem alternativas tecnológicas.
Dispositivos modernos, como celulares e veículos inteligentes, já são compatíveis com sinais de múltiplas constelações, o que minimiza os riscos de interrupção.
Capacidade existe, falta investimento
O professor Geovany Araújo Borges, da Universidade de Brasília (UnB), ressalta que o Brasil possui mão de obra qualificada, mas esbarra na limitação orçamentária. “O problema não é recurso humano. É investimento. Além disso, será necessário desenvolver setores como a microeletrônica e garantir que esse projeto seja uma política de Estado”, afirmou.
O professor também destacou os benefícios indiretos do investimento em tecnologia espacial, que impulsiona setores como medicina, agricultura, comunicações e defesa.
Próximos passos
Ao final dos 180 dias, o grupo técnico deverá apresentar ao ministro do GSI, Marcos Antonio Amaro dos Santos, um relatório com análises e recomendações. A partir dele, o governo decidirá se o Brasil iniciará ou não o ambicioso projeto de criar seu próprio sistema de navegação por satélite — uma decisão que pode redefinir o futuro da soberania tecnológica nacional.
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