A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) assumiu a coordenação do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Vacinas dos Brics e trabalha para alinhar os projetos de imunização entre os países do grupo — Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — com foco na ampliação do acesso da população do Sul Global às vacinas.
Em entrevista à Agência Brasil, o presidente da Fiocruz, Mário Moreira, destacou que a atuação em bloco se tornou indispensável após a experiência traumática da pandemia de covid-19, quando os países mais pobres ficaram por último na fila por vacinas, medicamentos e equipamentos. “O Sul Global ficou no fim da fila. Foi um susto. Agora estamos nos organizando em bloco”, afirmou.
Dados da plataforma Our World in Data apontam que, até março de 2023, das mais de 13,2 bilhões de doses de vacinas aplicadas no mundo, menos de 1 bilhão foi destinada ao continente africano. Enquanto países de alta renda alcançaram uma dose por habitante em agosto de 2021, os de baixa renda chegaram a maio de 2023 com apenas 40 doses por 100 habitantes.
Cooperação entre os Brics e apoio internacional
A proposta de cooperação entre os Brics foi reforçada na Declaração do Rio, assinada na última Cúpula de Líderes do bloco, e se conecta à proposta brasileira no G20 de formar uma coalizão global para o desenvolvimento e produção local de vacinas.
Segundo Moreira, os países estão mobilizando seus institutos de pesquisa para formar um repositório digital de projetos, com o objetivo de alinhar os esforços científicos. Também há expectativa de parcerias com o Banco dos Brics, além de apoio de grandes doadores internacionais como as fundações Rockefeller e Bill e Melinda Gates.
“Essa coalizão dos interessados precisa se sustentar com financiamento multilateral robusto. Até cogitamos um novo organismo multilateral para esse fim”, disse.
O Brasil lidera a iniciativa devido à sua experiência consolidada em vacinação pública, produção de imunizantes e cooperação com países da América Latina e da África lusófona.
Escritórios internacionais e expansão da Fiocruz
A Fiocruz vai inaugurar novos escritórios para reforçar a diplomacia científica. No dia 22 de julho, será aberta uma unidade em Portugal, com foco nas relações com a Europa. Em outubro, outro escritório será aberto na Etiópia, para intensificar parcerias com países africanos.
Além disso, a fundação está em tratativas para expandir parcerias com a Índia, envolvendo projetos industriais e desenvolvimento de novas vacinas que poderão ser incorporadas ao Programa Nacional de Imunizações (PNI).
A fundação também passou a integrar a Rede Pasteur, composta por 35 laboratórios em 25 países, e lidera um comitê da OPAS para mapear a capacidade produtiva e tecnológica da América Latina, visando formar um consórcio regional de desenvolvimento de vacinas e medicamentos.
Centro de Desenvolvimento Tecnológico
Para combater o chamado “vale da morte” — a lacuna entre a pesquisa científica e a produção efetiva de inovações —, a Fiocruz planeja inaugurar, em agosto, o Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde, voltado a acelerar projetos de novos produtos de saúde no Brasil e em países parceiros.
Doenças socialmente determinadas
A cooperação entre os Brics também abrange a eliminação de doenças socialmente determinadas, como tuberculose e hanseníase, cuja incidência é agravada pela pobreza e exclusão social. A meta é avançar em políticas e soluções inovadoras que fortaleçam o acesso à saúde no Sul Global.
*Da Agência Fonte Exclusiva. Compartilhe esta reportagem do Giro Capixaba, o melhor site de notícias do Estado Espírito Santo.
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