Ao menos 96 pesquisadores brasileiros desistiram de realizar parte de seus doutorados nos Estados Unidos, segundo a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). As desistências envolvem bolsas do programa de doutorado sanduíche, que permite o desenvolvimento parcial da pesquisa em instituições estrangeiras.
A informação foi confirmada pela presidente da Capes, Denise Pires de Carvalho, em entrevista à Agência Brasil. Segundo ela, o ambiente de insegurança acadêmica gerado pelas políticas do governo Donald Trump tem afastado universidades e pesquisadores de projetos nos EUA.
“Há áreas de pesquisa que têm sido diretamente impactadas com o corte de projetos e financiamento. As desistências aconteceram antes mesmo da solicitação de visto, o que aponta que a decisão foi motivada por questões estruturais nos programas”, explicou.
O programa de doutorado sanduíche permite que os próprios programas de pós-graduação escolham os países de destino em conjunto com os estudantes. Os pagamentos das bolsas são iniciados entre julho e agosto, com previsão de viagem em setembro.
Para 2025, a previsão de bolsas nos EUA sofreu forte queda. Em 2023, foram concedidas 880 bolsas. A meta para este ano era de 1,2 mil, mas apenas 350 estão previstas. Denise reforça que os estudantes devem ter um plano alternativo. “A Capes está pronta para redirecionar o país de destino, sem prejuízos ao andamento das pesquisas”, afirmou.
Entre os destinos mais escolhidos por pesquisadores brasileiros estão França, Portugal, Espanha e Estados Unidos. Apesar das parcerias com os países do Brics serem incentivadas, o interesse ainda é baixo: nos últimos dez anos, foram apenas 49 bolsas para a China e 84 para a África do Sul.
Segundo o presidente do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), Márcio de Araújo Pereira, ainda não há dados concretos sobre o impacto da situação nos estados. Ele afirma, no entanto, que países europeus e o Reino Unido têm demonstrado grande interesse em firmar parcerias com instituições brasileiras.
“Estamos fortalecendo a diplomacia científica. O olhar internacional para a ciência brasileira é muito positivo e confiável”, destacou.
A Fundação Lemann, que já concedeu 840 bolsas a brasileiros — 760 delas nos EUA — também acompanha os desdobramentos. Para Nathalia Bustamante, gerente de relacionamento com universidades da instituição, a presença de brasileiros nas principais universidades norte-americanas é estratégica para o Brasil. “É fundamental garantir o acesso de talentos diversos a essas formações de excelência. O retorno deles impacta diretamente no desenvolvimento do país”, afirmou.
Apesar da instabilidade, Capes e fundações estaduais garantem que não há portas fechadas com os Estados Unidos. O objetivo é manter e ampliar as oportunidades internacionais, buscando sempre a continuidade e a qualidade da produção científica brasileira.
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