A Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora dos Estados Unidos, aprovou um novo analgésico desenvolvido por uma farmacêutica chinesa, que pode representar um avanço significativo no combate à crise de opioides no país.
O medicamento, chamado Qamzova, é um anti-inflamatório não esteroidal (AINE) de ação prolongada, desenvolvido pela empresa Delova, sediada em Nanjing, na China.
Trata-se do primeiro analgésico injetável de longa duração aprovado nos EUA que não pertence à classe dos opioides. Com base em meloxicam, o fármaco oferece alívio da dor por até 24 horas com apenas uma aplicação diária.
Alternativa aos opioides
De acordo com a Sino Biofarmacêutica, grupo chinês responsável pelos direitos comerciais do Qamzova, o medicamento se mostrou eficaz no controle da dor moderada a severa, especialmente no pós-operatório, reduzindo de forma significativa a necessidade do uso de opioides como o fentanil.
Um anestesista de um grande hospital em Xangai, que preferiu não se identificar, destacou que os métodos tradicionais de alívio da dor exigem múltiplas injeções ao longo do dia, dificultando o controle contínuo da dor. Segundo ele, o Qamzova representa um avanço por garantir alívio constante por 24 horas, além de evitar efeitos colaterais comuns dos opioides, como sonolência, depressão respiratória, náuseas e vômitos.
Dependência ainda é questão em aberto
Apesar do otimismo, o especialista em abuso de drogas Li Jianhu fez um alerta: ainda é cedo para afirmar se o medicamento é completamente livre de riscos de dependência.
“Funciona até certo ponto para ajudar na redução da crise de overdose, especialmente em relação ao fentanil, mas são necessárias mais pesquisas para entender seus efeitos a longo prazo”, ponderou.
Tensão diplomática
A aprovação do Qamzova ocorre em meio a tensões diplomáticas entre Estados Unidos e China, especialmente por conta da crise do fentanil. O governo americano frequentemente acusa Pequim de não combater a exportação de substâncias químicas usadas na produção do opioide sintético. A China, por sua vez, rebate as acusações, afirmando que os Estados Unidos usam o tema como bode expiatório para um problema interno de saúde pública.
Entre 3% e 12% dos pacientes que recebem opioides para dor crônica desenvolvem algum grau de dependência. Apenas em 2023, cerca de 8,6 milhões de americanos relataram o uso inadequado de opioides prescritos, segundo dados oficiais.
A chegada de um novo analgésico não-opioide ao mercado norte-americano é vista como um passo importante, mas especialistas alertam que não se trata de uma solução definitiva, e sim de mais uma ferramenta no combate à dependência e à crise de saúde pública relacionada aos opioides.
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