O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, afirmou à Polícia Federal (PF) que advogados ligados ao ex-mandatário abordaram familiares — incluindo sua filha menor de idade, esposa e mãe — para tentar interferir em sua delação premiada. A declaração foi dada em depoimento prestado na terça-feira (24), como parte das investigações sobre a suposta trama golpista do governo anterior.
De acordo com Cid, os advogados Paulo Cunha Bueno e Fábio Wajngarten teriam mantido contato frequente com sua filha por meio de WhatsApp e Instagram, entre setembro de 2023 e o início de 2024. Wajngarten foi assessor direto de Bolsonaro e é uma das figuras próximas do ex-presidente. Já o advogado Luiz Eduardo de Almeida Kuntz, defensor do coronel Marcelo Câmara — também réu na ação penal — teria recorrido a encontros em hípicas para abordar a família de Cid e tentar obter informações sigilosas da delação.
Para a defesa de Mauro Cid, essas abordagens configuram uma tentativa de obstrução de Justiça. Cid relatou que descobriu os contatos ao acessar o celular da filha, e que as ações dos advogados buscavam desestimulá-lo a colaborar com a Justiça, além de tentar invalidar o acordo firmado com a PF e o STF.
“Acredita que Kuntz estabeleceu esse contato para obter informações sobre o acordo de colaboração e, com isso, obstruir as investigações, aproveitando-se da inocência de sua filha menor”, disse Cid no depoimento.</
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou os depoimentos de Wajngarten e Paulo Bueno. Moraes é relator do processo que investiga o chamado “núcleo crucial” do plano golpista, que tem como alvos oito réus, incluindo Bolsonaro, Cid e Câmara.
Perfis falsos e abordagens em eventos
A investigação inclui também o uso de perfis falsos em redes sociais. O advogado Kuntz afirmou ao STF que conversou com Cid pelo perfil “Gabrielar702”, no Instagram, supostamente criado com o e-mail maurocid@gmail.com. A empresa Meta, dona do Instagram, confirmou que o perfil foi associado a esse e-mail. Já a Google atestou que o endereço pertence a um usuário com a mesma data de nascimento de Mauro Cid.
O militar, no entanto, nega qualquer vínculo com a conta e afirma que nunca compartilhou informações sigilosas da delação com Kuntz. Ele também relatou que os advogados fizeram abordagens em hípicas de Brasília e São Paulo, locais onde sua filha participa de competições e onde teria ocorrido uma tentativa de contato também com sua mãe, Agnes.
Áudios e edição
Questionado sobre áudios em que aparece supostamente tratando da delação com Kuntz, Mauro Cid alegou que foi gravado de forma involuntária e que o material teria sido editado para gerar uma falsa narrativa. Kuntz, por sua vez, argumenta que o conteúdo prova a quebra de sigilo do acordo e pediu ao STF a anulação da delação.
Reações
Nas redes sociais, Fábio Wajngarten reagiu à decisão de Alexandre de Moraes, acusando o Judiciário de “criminalizar a advocacia” para deslegitimar o acordo de colaboração.
“A criminalização da advocacia é a cortina de fumaça para tentar ocultar a expressa falta de voluntariedade do réu delator Mauro Cid”, declarou.
A Agência Brasil tenta contato com os advogados citados. Até o momento, não há resposta oficial de Paulo Cunha Bueno. Já o coronel Marcelo Câmara teve prisão decretada por Moraes, por supostamente violar restrições impostas pelo STF com auxílio de seu advogado.
*Com informação da Agência Brasil. Compartilhe esta reportagem doGiro Capixaba, o melhor site de notícias do Estado do Espírito Santo.