Com o aumento das tensões entre Irã e Israel, o nome do aiatolá Ali Khamenei, líder supremo da República Islâmica, voltou ao centro dos debates internacionais. Em meio às ameaças públicas de líderes como Benjamin Netanyahu e Donald Trump, o papel central de Khamenei no sistema político iraniano se torna ainda mais evidente.
O premiê israelense afirmou que “matar Khamenei encerraria o conflito”, enquanto Trump declarou saber “onde ele está escondido”, chamando o líder de “alvo fácil”. A resposta de Khamenei veio rápida, classificando tais falas como “ridículas e perigosas”. Já o governo russo evitou apoiar qualquer ataque e chamou as declarações de “alarmantes”.
Diferente de democracias ocidentais, o Irã é uma república teocrática desde a Revolução Islâmica de 1979. O cargo mais alto não é o de presidente, mas o de líder supremo, uma autoridade religiosa e política que detém o controle final do Estado. Essa estrutura se baseia no princípio do Velayat-e Faqih, ou “governo do jurista islâmico”.
Ali Khamenei ocupa esse posto desde 1989, após a morte de Ruhollah Khomeini, líder da revolução. Desde então, comanda todas as áreas estratégicas do país, incluindo forças armadas, política externa, justiça, mídia e segurança.
Khamenei tem controle direto sobre as Forças Armadas, incluindo a poderosa Guarda Revolucionária, além de nomear chefes do Judiciário, da televisão estatal e do clero governamental. Ele também define as diretrizes da política internacional e decide, sozinho, se o país entra ou não em guerra.
Outro poder relevante está no sistema eleitoral: o líder supremo escolhe metade dos membros do Conselho dos Guardiões, órgão que aprova ou rejeita candidatos à presidência, ao Parlamento e à Assembleia dos Peritos. Na prática, isso significa que nenhum político pode se eleger sem o aval indireto de Khamenei.
Qual é o papel do presidente do irã?
O presidente iraniano é eleito por voto popular, mas seu poder é limitado à administração do governo e questões econômicas. Toda decisão estratégica precisa ser autorizada pelo líder supremo. O presidente atua mais como executor do que como decisor, e não tem autoridade sobre as Forças Armadas ou política externa.
Como se escolhe o líder supremo?
O líder é escolhido pela Assembleia dos Peritos, composta por cerca de 88 clérigos eleitos pela população, mas que só podem concorrer com a aprovação do Conselho dos Guardiões. Na teoria, esse órgão também pode destituir o líder. Na prática, como o próprio Khamenei influencia quem pode compor a assembleia, sua permanência no cargo é praticamente vitalícia.
Desde 1979, apenas dois homens ocuparam esse cargo: Khomeini e Khamenei. A sucessão permanece incerta, e ainda não se sabe quem assumirá o comando após a morte do atual líder, embora rumores e preparativos internos estejam em curso.
A tensão crescente com Israel e as declarações inflamadas de Trump reacenderam o debate sobre o papel de Khamenei na política internacional. Por concentrar o poder decisório, inclusive sobre temas nucleares e militares, qualquer ação iraniana no conflito depende de sua aprovação.
Ali Khamenei não é apenas uma figura religiosa ou simbólica. Ele é, de fato, o chefe de Estado do Irã, com poderes que superam em muito os do presidente. Em um momento de alta instabilidade no Oriente Médio, seus gestos e decisões podem definir o rumo da região — e do mundo.
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