Profissionais da organização internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) que atuaram recentemente na Faixa de Gaza denunciam um cenário de destruição em massa, colapso dos serviços básicos e grave crise humanitária provocada pelos bombardeios e bloqueios impostos por Israel desde a retomada dos ataques em março deste ano.
Segundo a coordenadora do MSF em Jerusalém Oriental, Damares Giuliana, 94% dos hospitais de Gaza estão fora de funcionamento — foram bombardeados ou evacuados à força. Os 6% restantes também sofreram danos significativos.
“O que está acontecendo ali é limpeza étnica. São atos que podem configurar crime de guerra, crimes contra a humanidade e até genocídio”, afirma a coordenadora.
Ela denuncia ainda o uso de fome como arma de guerra:
“Quando se proíbe a entrada de alimentos, está se minando todas as possibilidades de vida. Não há água, luz ou aquecimento. Israel bombardeia hospitais, escolas, proíbe circulação de veículos e obriga civis a caminharem quilômetros sob ataques de drones e tanques”, relatou durante encontro promovido pelo MSF na sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Rio de Janeiro.
Bloqueio agrava situação
O agravamento da crise humanitária começou em 2 de março, quando Israel proibiu a entrada e saída de insumos médicos e suprimentos na Faixa de Gaza. Em 18 de março, foi encerrado o cessar-fogo e os bombardeios foram retomados com intensidade.
“O território é pequeno, mas a população — cerca de 2,2 milhões de pessoas — está hoje espremida em apenas 15% da área total, devido às ordens de despejo e à militarização imposta por Israel”, afirma Damares.
Hospitais improvisados e desnutrição
A enfermeira Ruth Barros, que atuou no norte de Gaza entre fevereiro e abril, relata que a região está completamente destruída.
“Vimos os mercados funcionando e os hospitais tentando se reerguer até o bloqueio. Depois disso, trabalhamos com o que havia em estoque. A cada novo ataque, a capacidade de resposta diminuía”, relata.
Ela também destaca os efeitos psicológicos da guerra, especialmente em crianças:
“Muitas apresentam sintomas de estresse pós-traumático, e os adultos, de depressão. Já atuei em zonas de conflito, mas o nível de destruição e sofrimento em Gaza é inédito. As pessoas vivem em tendas, fazem uma refeição por dia, geralmente enlatados. A desnutrição aumentou drasticamente”, alerta.
Além disso, a destruição de infraestrutura provocou esgoto a céu aberto, agravando o risco de doenças infecciosas.
Volume de vítimas é inédito
O médico generalista Paulo Reis atuou na região central de Gaza, mais preservada, coordenando um hospital de campanha voltado a casos de trauma. Ele conta que, no período entre março e maio, o volume de atendimentos era avassalador.
“Realizávamos 20 a 30 cirurgias por dia. Quando cheguei, havia 50 pacientes internados; quando saí, eram 80. A grande diferença de Gaza para outros conflitos é o volume. Os bombardeios são contínuos, drones sobrevoam 24 horas por dia. As explosões são tão frequentes que as pessoas continuam suas rotinas mesmo com uma bomba caindo por perto”, relata.
Contexto do conflito
A Faixa de Gaza, controlada pelo grupo Hamas, é alvo de bombardeios intensos desde o ataque do grupo a vilarejos israelenses em outubro de 2023, que deixou cerca de 1,2 mil mortos e 220 reféns. Israel sustenta que os ataques visam resgatar os reféns e eliminar o Hamas.
Desde então, os bombardeios já deixaram mais de 56 mil mortos e mais de 100 mil feridos, segundo dados de autoridades palestinas e ONGs internacionais. A destruição de hospitais, escolas, sistemas de água e eletricidade e o bloqueio contínuo à entrada de alimentos e medicamentos aprofundam o colapso humanitário.
*Com informação da Agência Brasil.Compartilhe esta reportagem do Giro Capixaba, o melhor site de notícias do Estado do Espírito Santo.
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