Seja na mesa dos brasileiros ou nas exportações que movimentam bilhões, o café é muito mais do que uma bebida: é parte essencial da economia e da cultura do Brasil. O país segue como líder mundial na produção do grão e, em 2020, alcançou um recorde histórico, exportando 44,5 milhões de sacas — crescimento de 9,4% em relação ao ano anterior, segundo o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).
No cenário nacional, o Espírito Santo ocupa uma posição de destaque. O estado não só é o segundo maior produtor de café do país, como, se fosse uma nação independente, seria o segundo maior produtor mundial de café conilon, atrás apenas do Vietnã.
Mas como o café se tornou uma das maiores riquezas do Espírito Santo e do Brasil? A história dessa cultura é marcada por desafios, superação e inovação — e ela continua se reinventando diante das novas demandas do mercado e dos impactos das mudanças climáticas.
A história do café no Brasil
Até o século XVII, a produção de café era um privilégio dos árabes. Diversos países europeus tentaram cultivar o grão, mas sem sucesso — até que os holandeses conseguiram transportar mudas para a Europa, que até hoje estão preservadas no Jardim Botânico de Amsterdã.
O grão chegou ao Brasil por volta de 1727, trazido pelo Sargento-Mor Francisco de Melo Palheta, vindo das Guianas. As primeiras plantações foram no Pará e depois se espalharam para Amazonas, Maranhão e Piauí. Nessas regiões, o cultivo não encontrou as condições ideais e não prosperou economicamente.
Foi apenas em 1770, no Rio de Janeiro, que o café começou a ganhar força econômica, com o Desembargador João Alberto Castello Branco trazendo as primeiras mudas para a região. O estado do Rio liderou a produção até o final do século XIX, quando São Paulo assumiu a liderança. Na sequência, Minas Gerais e Espírito Santo também se destacaram.
O surgimento do café no Espírito Santo
No Espírito Santo, os primeiros cafezais surgiram no século XIX, impulsionados pela chegada de imigrantes italianos e alemães. O cultivo começou nas regiões serranas e no Sul do estado, mas se expandiu rapidamente para o Vale do Rio Doce e para as áreas de Mata Atlântica a partir da década de 1920.
Até 1962, o café arábica dominava a economia capixaba, ocupando mais de 500 mil hectares. No entanto, a exaustão dos solos e o surgimento da ferrugem — doença até então desconhecida no Brasil — provocaram uma crise no setor. A situação se agravou com o plano federal de erradicação dos cafezais, que reduziu em 53% a área plantada no estado, causando sérios impactos sociais e econômicos.
A ascensão do café conilon
Nesse contexto de crise, o café conilon surgiu como alternativa viável, mais resistente e adaptável às condições locais. Apesar da resistência inicial dos produtores tradicionais de arábica, preocupados com a qualidade e o mercado, o conilon rapidamente ocupou o espaço deixado pela variedade anterior.
O primeiro plantio de conilon no Espírito Santo foi registrado na Fazenda Monte Líbano, em Cachoeiro de Itapemirim. As sementes foram levadas para a Escola Agrotécnica Federal de Santa Teresa e, posteriormente, para São Gabriel da Palha, onde se consolidaram graças a produtores como Ernesto Caetano, Moisés Colombi e Arcanjo Lorenzoni.
Em 1971, começaram os plantios comerciais que mudariam o cenário agrícola capixaba. O conilon provou ser uma cultura de alta produtividade, baixo custo de produção e resistência às condições climáticas do estado.
Inovação e sustentabilidade impulsionam a cafeicultura
O desenvolvimento da cafeicultura no Espírito Santo também foi resultado da articulação entre setor público e privado. O trabalho conjunto do Centro do Comércio de Café de Vitória (CCCV) e do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) foi essencial para disseminar informações tecnológicas e melhorar a produtividade.
A fundação do Centro de Desenvolvimento Tecnológico do Café (CETCAF), em 1993, foi um marco para a modernização da cafeicultura capixaba. A instituição sem fins lucrativos, fruto da união de cooperativas, produtores e entidades do setor, tem contribuído decisivamente para elevar a qualidade dos grãos e inserir o estado no mercado de cafés especiais.
O café na economia capixaba hoje
Atualmente, o café representa cerca de 43% do PIB agrícola do Espírito Santo, segundo a Embrapa. Além do volume expressivo de produção, o estado tem se destacado na qualidade dos grãos, tanto de arábica quanto de conilon, e no crescimento do mercado de cafés especiais.
A cafeicultura capixaba segue atraindo investimentos nacionais e internacionais, reforçando seu papel como motor econômico, gerador de empregos e vetor de desenvolvimento sustentável.
O “ouro verde”, como é conhecido, continua sendo um símbolo da resiliência dos produtores capixabas e uma das maiores riquezas do Espírito Santo e do Brasil.
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