A trajetória de Frantz Fanon se confunde com a própria luta por libertação e consciência negra. No ano em que se completam 100 anos de seu nascimento, o legado do intelectual martinicano segue pulsante nos debates sobre racismo, colonialismo e emancipação dos povos oprimidos.
Nascido em Fort-de-France, na então colônia francesa da Martinica, Fanon lutou ao lado do Exército francês na Segunda Guerra Mundial antes de se formar em psiquiatria em Lyon. Sua experiência entre o colonialismo europeu e os traumas da guerra moldou o pensamento revolucionário que marcaria obras fundamentais como “Pele Negra, Máscaras Brancas” (1952) e “Os Condenados da Terra” (1961).
“Fanon é uma das bases para a gente começar os estudos sobre a questão racial”, afirma Leonardo Beliene, mestre em educação popular pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e pesquisador de África e cultura afro-brasileira. Para ele, Fanon abriu caminhos para pensar a negritude não apenas como identidade, mas como um campo de disputa simbólica e política.
O jornalista e mestre em comunicação Davi Carlos Acácio, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), complementa: “É um autor essencial para compreender tanto a questão colonial quanto o processo de desalienação do negro.” Para Acácio, Fanon revela o funcionamento simbólico do racismo ao afirmar que “é o branco quem cria o negro”, ou seja, o racismo é uma construção do colonizador.
A máscara e a linguagem como territórios de disputa
Em “Pele Negra, Máscaras Brancas”, Fanon analisa como o negro, sob dominação branca, busca se humanizar através da assimilação de traços do opressor — o que ele chama de “máscara branca”. A linguagem, nesse processo, torna-se uma ferramenta de inclusão, mas também de conflito identitário. “Há uma tentativa de se aproximar do símbolo da humanidade tal como o branco o define”, explica Acácio.
Segundo ele, Fanon aponta a educação e o conhecimento como caminhos possíveis para romper esse ciclo. “Ele aposta na sabedoria como forma de lutar por novos significados para o negro, que foi historicamente construído como ‘coisa ruim’ pelo olhar colonial”, acrescenta.
O pensamento de Fanon segue influenciando movimentos decoloniais, educadores, psicanalistas e militantes antirracistas ao redor do mundo. Sua crítica radical ao colonialismo e à alienação cultural continua sendo referência para aqueles que buscam uma sociedade mais justa, plural e livre das estruturas impostas pela dominação histórica do Ocidente.
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