Após mais de 32 horas de viagem de ônibus entre São Félix do Xingu (PA) e Brasília (DF), a matriarca Pangroti Kayapó, 60 anos, e sua neta Nhaikapep, 22, chegaram à capital federal para participar da 1ª Conferência Nacional das Mulheres Indígenas, que teve início na noite desta segunda-feira (4).
Para elas, o evento é mais do que um encontro: é um espaço de denúncia e resistência. Ainda abalada pelos impactos do garimpo ilegal na região onde vive sua comunidade, Pangroti, que se comunica em língua indígena, teve sua mensagem traduzida pela neta:
“Para que a gente proteja a natureza, pedimos proteção para nós, para nosso ambiente e nossa cultura”, declarou emocionada.
Garimpo, agrotóxicos e violações
Os relatos sobre a destruição de rios e a contaminação por metais pesados em territórios demarcados foram um dos temas centrais. Nhaikapep alertou sobre a poluição dos rios Fresco, Iriri e Xingu, fundamentais para a sobrevivência dos povos Kayapó.
Outro depoimento forte veio de Soraya Kaingang, 44 anos, da Aldeia Apucaraninha (PR), que viajou mais de 20 horas com os quatro filhos até Brasília. Ela relatou a crescente exposição de crianças indígenas aos agrotóxicos utilizados por produtores rurais que invadiram o território de sua infância.
“Está cada vez mais difícil plantar nosso milho, mandioca, feijão. A gente veio aqui contar nossas histórias”, disse Soraya.
Participação de ministras e críticas ao PL do Licenciamento

A cerimônia de abertura reuniu cinco ministras de Estado: Sônia Guajajara (Povos Indígenas), Marina Silva (Meio Ambiente), Margareth Menezes (Cultura), Macaé Evaristo (Direitos Humanos) e Márcia Lopes (Mulheres). Todas reforçaram a importância da luta indígena por território, proteção e reconhecimento.
Sônia Guajajara destacou que as mulheres indígenas continuam sendo vítimas de racismo, machismo e violência, e defendeu a criação de políticas públicas para garantir sua segurança:
“Nós enfrentamos retrocessos e ataques todos os dias. É dever do Estado proteger as mulheres indígenas.”
A ministra Marina Silva alertou para os impactos das mudanças climáticas e criticou duramente os líderes internacionais que dificultam ações ambientais:
“Em vez de fazer guerra contra o clima, fazem guerra tarifária”, afirmou, em referência ao ex-presidente americano Donald Trump. Ela também criticou o ex-presidente Jair Bolsonaro por ser contrário às demarcações de terras indígenas.
PL da Devastação preocupa ambientalistas
Durante o evento, também houve protestos contra o Projeto de Lei 2.159/2021, apelidado por ambientalistas de “PL da Devastação”, que prevê flexibilizações no licenciamento ambiental. A proposta, aprovada pelo Congresso, aguarda sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Líderes indígenas e especialistas pedem o veto ao texto.
Presença histórica
A conferência reúne cerca de cinco mil mulheres indígenas de todos os biomas brasileiros e antecede a IV Marcha das Mulheres Indígenas, marcada para esta quinta-feira (7). A proposta é criar um grupo de trabalho interministerial para formular estratégias voltadas à proteção das mulheres indígenas.
A presidente da Funai, Joênia Wapichana, defendeu mais recursos no orçamento federal para fortalecer ações de enfrentamento à violência:
“Estamos com ações em andamento, mas precisamos dar um basta”, afirmou.
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