Na cidade que virou símbolo da corrupção no Espírito Santo, a velha fórmula do “pão e circo” segue em alta. Com pouco mais de 13 mil habitantes e um dos maiores orçamentos per capita do Brasil, Presidente Kennedy, no sul do estado, iniciou a 26ª edição da ExpoKennedy 2025 nesta quinta-feira (10), gastando mais de R$ 1,3 milhão só com cachês de artistas, mesmo enfrentando sérias deficiências em serviços básicos como saúde e educação.
O município está sob gestão interina após a cassação do ex-prefeito Dorley Fontão (PSB), que tentou concorrer ilegalmente a um terceiro mandato consecutivo. O atual prefeito, Júnior Gromobol (PSB), assumiu o cargo de forma provisória e, desde então, é alvo de críticas pela condução das finanças públicas.
Shows para poucos, sofrimento para muitos
A ExpoKennedy deste ano contará com cinco atrações de renome nacional. Veja os valores contratados, segundo o Portal da Transparência:
-
Solange Almeida – R$ 400 mil
-
Vitor Fernandes – R$ 380 mil
-
Zé Ricardo e Thiago – R$ 180 mil
-
Banda Djavú com DJ Juninho Portugal – R$ 180 mil
-
Carreiro e Capataz – R$ 160 mil
Ao todo, os cachês somam R$ 1,3 milhão — quase 10% de todo o orçamento anual da cultura no município em 2025.
Enquanto isso, moradores denunciam o desabastecimento de medicamentos, a ausência de transporte público eficiente e falta de material escolar para alunos da rede municipal. No Parque de Exposições, onde ocorrerão os eventos, o contraste salta aos olhos: banheiros químicos bem montados e estrutura de luxo, enquanto postos de saúde lutam para oferecer o mínimo à população.
Presidente Kennedy figura entre os municípios que mais arrecadam royalties do petróleo e Participações Especiais no Brasil. Mesmo assim, os investimentos prioritários parecem não chegar ao povo. A indignação é crescente entre os moradores.
“É um escândalo ver tanto dinheiro sendo queimado em shows, enquanto crianças precisam de remédios que não chegam”, desabafa uma moradora por meio de mensagem no WhatsApp, que preferiu não se identificar, temendo represálias.
Crise política e embargos no TSE
A eleição de 2024 foi anulada após Dorley Fontão tentar concorrer novamente ao cargo, violando a Constituição. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ainda não autorizou o Tribunal Regional Eleitoral do Espírito Santo (TRE-ES) a marcar nova eleição. Enquanto isso, embargos apresentados pelos advogados de Dorley atrasam a realização do novo pleito.
Apesar de afastado formalmente, Dorley segue influente na administração local. Críticos apontam que Gromobol seria apenas uma “extensão” política de seu antecessor, mantendo a velha prática de governar de forma indireta e favorecer eventos de apelo popular para garantir apoio.
Perguntas sem resposta
-
Qual o critério de escolha dos artistas contratados?
-
Há superfaturamento nos cachês pagos?
-
O Ministério Público do Espírito Santo foi acionado para apurar a legalidade dos contratos?
-
O investimento em cultura corresponde à realidade de um município com serviços básicos tão precários?
📢 Frase que resume o escândalo:
“Enquanto a música toca na EXPOKENNEDY, a saúde pública silencia.” — Morador anônimo de Presidente Kennedy citado em reportagem do Portal VIU!.
Por ora, a prefeitura não respondeu às denúncias de moradores que se manifestam por meio de grupos de discussões no WhatsApp, plataforma que se destaca para difusão de informações diante do vazio de notícias sobre o tema na imprensa local.
*Da Agência Fonte Exclusiva. Compartilhe esta reportagem do Giro Capixaba, o melhor site de notícias do Estado do Espírito Santo.
Siga o GIRO CAPIXABA no Instagram