A Sala do Artista Popular do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP/Iphan), no Museu de Folclore Edison Carneiro, no bairro do Catete, no Rio de Janeiro, abriga até 28 de setembro a exposição “Hãmxop tut xop – as mães das nossas coisas”, dedicada ao artesanato em fibra de embaúba produzido por mulheres da etnia Maxakali, povo originário do nordeste de Minas Gerais.
A mostra é um registro potente da cultura viva de um dos povos indígenas que mais resistem à perda de sua identidade. Os Maxakali, ou Tikmũ’ũn, são o único grupo indígena em Minas Gerais a preservar sua língua nativa, mesmo diante de pressões históricas e sociais.
“A gente está trazendo memória viva. Para nós, é a nossa herança que a gente leva para alguns lugares. O conhecimento e a sabedoria estão dentro da nossa memória. Não apagaram”, declarou Sueli Maxakali, professora, artista e fotógrafa, durante a abertura da exposição.
Arte, natureza e resistência
As peças em exposição — bolsas, pulseiras, colares e braceletes — são feitas com fibras da embaúba, árvore nativa da Mata Atlântica, quase extinta nas regiões onde vivem os Maxakali. Além de gerar renda, o artesanato é um instrumento de reflorestamento e preservação cultural.

“Nós levamos [o artesanato] para fora para vender e, com o dinheiro, compramos mudas nativas e árvores frutíferas para replantar nas aldeias”, explica Sueli, que integra um projeto de reflorestamento que já plantou 156 hectares de vegetação nativa e 100 quintais agroflorestais nos territórios Tikmũ’ũn.
Documentário e reparação histórica
A abertura da exposição também marcou a pré-estreia do documentário “Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá”, que narra a busca de Sueli Maxakali e sua irmã Maíza pelo pai, Luis Kaiowá, retirado de sua aldeia durante a ditadura militar. O filme entra em cartaz no circuito nacional no dia 10 de julho, com mais informações disponíveis no site www.meupaikaiowá.com.br.
“O que a Sueli faz é recuperar um parentesco criado pela história dos brancos, que impuseram uma convivência forçada entre povos indígenas diferentes. Mas, a partir disso, surgiu uma aliança verdadeira”, observou o antropólogo e codiretor do filme, Roberto Romero.
Presente na exibição, a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, destacou: “Esse documentário revela que a luta por reparação dos povos indígenas ainda é uma realidade. Não é uma história do passado — é presente.”
Reconhecimento no Iphan
O diretor do CNFCP, Rafael Barros, anunciou que em agosto os Maxakali vão formalizar junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) o pedido de registro de seus ritos e cantos como patrimônio imaterial brasileiro.
“A exposição é um ponto de partida para esse reconhecimento. Os Maxakali têm um complexo cultural único, que precisa ser protegido para permanecer vivo e ativo”, afirmou Barros, destacando ainda que a preservação da língua e dos rituais Maxakali só foi possível graças a uma postura de resistência ao contato com o mundo não indígena.
Um povo invisibilizado, agora em destaque
Com cerca de 2.600 habitantes, os Maxakali vivem em cinco aldeias no Vale do Mucuri, em Minas Gerais. Mesmo próximos de grandes centros urbanos, ainda enfrentam invisibilidade e barreiras linguísticas, já que grande parte da população fala exclusivamente a língua Tikmũ’ũn.
A exposição “Hãmxop tut xop – as mães das nossas coisas” é, portanto, mais do que uma mostra de arte. É um símbolo de resistência, memória e reconexão com a terra — pilares fundamentais da cultura Maxakali.
* Da Agência Fonte Exclusiva. Compartilhe esta reportagem do Giro Capixaba, o melhor site de notícias do Estado do Espírito Santo.