No meio da aridez do deserto do Atacama, no Chile, a jovem Carola vive sob o peso da rotina em uma caminhonete ao lado do pai, prestando serviços a uma mina onde predominam homens e a dureza do ambiente. É nesse cenário que se desenrola “Ouro Amargo” (Oro Amargo), filme chileno dirigido por Juan Olea, que teve sua estreia em solo brasileiro no Festival de Cinema Sul-Americano de Bonito (Cinesur), em Mato Grosso do Sul.
A história acompanha Carola, uma jovem cozinheira dos mineiros, em seu ir e vir solitário e opressivo, até que o encontro com uma mina abandonada altera seu destino. O deserto, imenso e impiedoso, se torna quase um personagem do drama, refletindo a violência e o abandono enfrentados por ela — e por tantas mulheres.
No último sábado (26), durante a exibição no Cinesur, o longa foi aplaudido calorosamente pelo público, que se emocionou com a narrativa sensível e com a atuação da protagonista, vivida pela atriz chilena Katalina Sánchez, em sua segunda visita ao Brasil.
“A metáfora do título surgiu das histórias dos próprios mineiros”, contou Katalina em entrevista à Agência Brasil. “Eles nos explicaram que, quando o ouro é encontrado, ele deixa um gosto amargo na boca. E isso também fala da ambição, da dor e dos riscos que vêm junto ao poder e à riqueza.”
No filme, o pai de Carola lhe ensina a identificar esse gosto metálico para prever a presença de minerais valiosos. Mas, como destaca a atriz, o enredo mergulha em camadas simbólicas mais profundas, que falam sobre mitos, superstições e desigualdade de gênero.
Protagonismo feminino no faroeste latino
Ao contrário de outros filmes do gênero, “Ouro Amargo” é um faroeste latino guiado por uma narrativa feminina. É por meio dos olhos de Carola que o público vivencia o suspense, a dor e a luta por liberdade em um ambiente hostil, dominado por homens.
“É um filme que mostra como as mulheres muitas vezes se sentem neste mundo: pequenas em um espaço enorme que ainda não parece nos pertencer”, comentou Katalina. “Carola é uma menina que não deveria ter que enfrentar tudo o que enfrenta. Mas ela assume um papel de força diante da adversidade.”
Com destaque para temas como violência de gênero, desigualdade social e resistência feminina, o longa oferece um retrato potente da realidade sul-americana, em especial das regiões esquecidas e das mulheres silenciadas.
Recepção calorosa em Bonito
Katalina Sánchez celebrou a recepção do público brasileiro no festival. “Foi emocionante. Os aplausos me tocaram profundamente. Estrear esse filme na América do Sul tem um significado especial, porque somos capazes de sentir o que Carola sente — o perigo, a dor, o peso das emoções. É algo que nos conecta como cultura.”
O Cinesur 2025, realizado até o dia 2 de agosto na turística cidade de Bonito (MS), reúne obras cinematográficas de diferentes países sul-americanos, destacando a diversidade cultural e o potencial do cinema latino.
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