O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu, nesta sexta-feira (4/7), a criação de uma nova arquitetura financeira global durante a abertura da 10ª reunião anual do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), presidido por Dilma Rousseff. O evento, realizado no Brasil, reuniu lideranças políticas e executivos de instituições financeiras de diversos países.
No discurso, Lula criticou o modelo tradicional de financiamento internacional baseado em dívidas com juros altos e condicionalidades restritivas, numa referência implícita ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Segundo ele, esse modelo aprofunda desigualdades ao tornar países pobres ainda mais dependentes. “Pobre fica mais pobre e rico fica mais rico. É isso que nós temos que mudar”, afirmou.
Moeda alternativa ao dólar
Lula também defendeu a criação de uma nova moeda para o comércio internacional, liderada pelo NDB, como forma de reduzir a dependência do dólar. A proposta visa oferecer aos países emergentes mais soberania econômica e condições de negociação mais justas.
“Não é possível, no século 21, tratar o financiamento da mesma forma que se tratava no século 20”, disse Lula. “O NDB deve ser o motor de um novo modelo de desenvolvimento mais justo e inclusivo.”
Reformas estruturais e multilateralismo
Para Lula, as instituições financeiras internacionais tradicionais falharam em promover reformas efetivas e não oferecem crédito suficiente para o desenvolvimento sustentável. Ele destacou que o NDB nasceu da vontade dos países do BRICS de preencher esse vácuo e tem adotado governança com igualdade de voz e voto, sem imposição de programas com condicionalidades.
Atualmente, 31% dos projetos do banco são realizados em moedas locais, reforçando sua vocação de apoio à soberania nacional.
Financiamentos sustentáveis e emergenciais
Desde sua fundação em 2014, o NDB já aprovou mais de 120 projetos, com investimentos que somam US$ 40 bilhões em áreas como energia limpa, transporte, abastecimento de água e saneamento. No Brasil, já foram financiados mais de 20 projetos, com mais de US$ 3,5 bilhões destinados a diferentes setores.
Lula destacou ainda a resposta rápida do NDB às enchentes no Rio Grande do Sul, como exemplo da agilidade da instituição frente a emergências.
Críticas à ONU e apelo por justiça social
Em sua fala, o presidente também voltou a criticar a inoperância da ONU, especialmente em relação à criação do Estado da Palestina. “Foi capaz de criar o Estado de Israel, mas não o da Palestina”, afirmou. Lula fez um apelo por lideranças políticas fortes e por um fluxo financeiro global que priorize a justiça social, o multilateralismo e o combate à miséria.
Destaques do discurso
- Apoio à adesão de novos países ao NDB, como Argélia, Uzbequistão, Colômbia e Uruguai;
- Defendeu que o NDB financie um estudo de viabilidade para instalação de cabo submarino de dados entre países do BRICS;
- Anunciou o compromisso do banco de direcionar 40% dos recursos a projetos sustentáveis, em alinhamento com a Cúpula do BRICS e a COP30, que será realizada em Belém (PA);
- Reforçou a necessidade de incluir critérios sociais em todos os investimentos, como forma de preservar a liberdade e promover a democracia.
“Fora a democracia e o multilateralismo, não há saída”, concluiu Lula, defendendo o papel do NDB como símbolo de uma nova era no desenvolvimento global.
* Da Agência Fonte Exclusiva. Compartilhe esta reportagem do Giro Capixaba, o melhor site de notícias do Estado do Espírito Santo.