O quarto capítulo da série investigativa “República dos Royalties”, publicado pelo jornal carioca Diário da Guanabara, traz à tona suspeitas de um esquema sofisticado de corrupção envolvendo a empresa Shark Negócios e Empreendimentos Ltda, que movimentou mais de R$ 13 milhões em apenas cinco meses através de transferências PIX em Presidente Kennedy, município do sul capixaba que ostenta a maior renda per capita do país graças aos royalties do petróleo.
A reportagem, baseada em investigações da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) e em extratos bancários obtidos com exclusividade, revela como a empresa, anteriormente chamada Lopes do Brasil Ltda, utilizou um lavador de carros como “laranja” para obter contratos milionários na prefeitura e distribuir recursos através de um sofisticado esquema de transferências bancárias.
Silêncio quebrado e letargia dos órgãos de controle
A série “República dos Royalties” tem se destacado por quebrar o silêncio que paira sobre os escândalos de corrupção em Presidente Kennedy, município que recebe volumosos recursos de royalties de petróleo e gás, mas que não apresenta desenvolvimento social compatível com sua arrecadação.
Só no ano de 2023 o município com apenas 12 mil habitantes recebeu mais de R$ 300 milhões de repasses em função da atividade petrolífera.
Um dos pontos mais alarmantes revelados pela investigação é a aparente letargia dos órgãos de controle externo capixaba diante das evidências de corrupção.
A leitura da reportagem deixa patente que a inação dos órgãos fiscalizadores levanta suspeitas sobre possível aparelhamento político, permitindo que esquemas como o da Shark Negócios operem livremente, drenando recursos que deveriam ser destinados ao desenvolvimento do município.
“A série está evidenciando não apenas a corrupção em si, mas também a falha sistêmica dos mecanismos de controle que deveriam proteger o erário público”, destaca trecho da matéria do Diário a Guanabara, que aponta conexões entre operadores financeiros como Leonardo Rios Batista, conhecido como “Leo Goela”, e figuras políticas influentes no estado.
Crise política se aprofunda com eleição anulada
O escândalo de corrupção exposto pela série investigativa se soma à grave crise política que Presidente Kennedy enfrenta atualmente. O município teve o resultado da eleição para prefeito em 2024 anulado, após o ex-prefeito Dorley Fontão (PSB), vencedor do pleito, ter seus votos invalidados por tentar o terceiro mandato consecutivo, o que é vedado pela Constituição Federal.
Agora a cidade aguarda que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) determine ao Tribunal Regional Eleitoral do Espírito Santo (TRE-ES) a marcação de novas eleições, mas enquanto isso, Fontão já teve um recurso e uma liminar negados pela corte superior.
A indefinição política agrava ainda mais o cenário de instabilidade administrativa no município, facilitando a continuidade de esquemas de desvio de recursos públicos.
Investigação da Draco e conexões políticas
A série “República dos Royalties” teve início a partir de uma investigação da Draco que resultou em mandados de busca e apreensão contra Leonardo Rios Batista (Leo Goela), Diou Feletti, Welter José da Costa (o “laranja” da Shark Negócios), entre outros suspeitos.
O quarto capítulo da série revela que Leo Goela mantém fortes ligações com um deputado estadual capixaba, cujo nome ainda é mantido em sigilo, e que essa conexão seria fundamental para garantir o acesso da Shark Negócios a contratos milionários na prefeitura de Presidente Kennedy.
Outro nome citado na reportagem é o de Rodrigo Lisbôa, Procurador-Geral de Presidente Kennedy, que pode ter atuado, por meio de pareceres, para viabilizar juridicamente os contratos com a empresa investigada.
O impacto da série investigativa
A série “República dos Royalties” tem causado forte repercussão no cenário político capixaba, ao expor como municípios ricos em royalties de petróleo e gás se tornaram alvos preferenciais de esquemas de corrupção, comprometendo o desenvolvimento social e econômico dessas localidades.
O Diário da Guanabara promete continuar a série, aprofundando as investigações sobre o destino dos recursos de royalties e as conexões políticas que permitem a perpetuação de esquemas de desvio de dinheiro público no Espírito Santo.
Segundo especulações, as investigações devem avançar sobre figuras notórias no cenário político capixaba, que estariam se beneficiando do esquema.
A equipe do jornal carioca admite a possibilidade de entrevistar Gilbert Wagner Antunes Lopes, conhecido como Batman. Atualmente foragido da Justiça do Espírito Santo, ele pode ser uma peça-chave para revelar detalhes de esquemas de fraude em licitação, desvios de dinheiro público e pagamentos de propina.
O foragido já foi secretário na Prefeitura de Marataízes. Ele também é ex-dono da empresa Lopes Brasil Ltda, que depois mudou o nome para Shark Negócios Ltda. A partir daí, a empresa passou a celebrar contratos milionários com a Prefeitura de Presidente Kennedy.
O foragido que já prestou depoimento à justiça por meio de videoconferência. Ele manteve uma convivência íntima com a classe política de Kennedy e autoridades estaduais. Portanto, teria informações detalhadas sobre os grandes beneficiários do que seria um propinoduto abastecendo uma grande rede de corrupção.
O programa Direto da Redação, apresentado pelo jornalista Roberto Barbosa, também deverá entrar na cobertura da série República dos Royalties. “É instigante. Essa série de reportagem em capítulos, praticamente, já nos traz o roteiro pronto”, disse Barbosa.
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