Organizações da sociedade civil que atuam na defesa dos direitos das mulheres, da população negra e da saúde pública manifestaram, nesta sexta-feira (1º), repúdio à conduta do prefeito de Cuiabá, Abilio Brunini (PL), durante a 15ª Conferência Municipal de Saúde. O episódio culminou na saída da professora e doutora em Saúde Pública, Maria Inês da Silva Barbosa, após uma discussão iniciada pelo uso de pronomes neutros em sua fala.
Durante sua participação na abertura do evento, Maria Inês — referência nacional nas áreas de saúde coletiva e combate ao racismo — foi interrompida por Brunini, que se opôs ao uso de linguagem neutra, classificando a prática como “doutrinação ideológica”. A conferência é organizada pelo Conselho Municipal de Saúde, órgão independente da Prefeitura.
Diante da intimidação, a professora deixou o evento. A atitude do prefeito gerou reações imediatas de repúdio por parte de instituições como a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Associação Brasileira de Saúde Mental (Abrasme), Odara – Instituto da Mulher Negra, Rede de Mulheres Negras do Nordeste, Instituto de Mulheres Negras de Mato Grosso (IMUNE/MT) e a União Estadual dos Estudantes de Mato Grosso.
Denúncias de racismo e violência de gênero
Em nota, a Abrasco afirmou que a ação de Brunini foi “racista e de violência política de gênero”. A entidade destacou que a repressão à liberdade de expressão da professora revela preconceitos e práticas de opressão enfrentadas por intelectuais negras, indígenas e pela população LGBTQIAPN+.
O Odara classificou o episódio como “misógino, racista e autoritário”, lembrando que Brunini já havia feito declarações negacionistas sobre a eficácia da vacina contra a covid-19 e chegou a ser acusado de gesto associado ao supremacismo branco durante a CPMI dos Atos Golpistas, em 2023.
Já a Rede de Mulheres Negras do Nordeste destacou o papel estratégico de Maria Inês na formulação da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra e afirmou que “não aceitará o silenciamento de uma mulher negra com tamanha trajetória”.
Linguagem neutra e acolhimento no SUS
As entidades reafirmaram que a linguagem neutra é uma ferramenta de inclusão e acolhimento no contexto da saúde pública, especialmente dentro do SUS, que deve atender a todas as pessoas de forma equitativa e respeitosa.
A Abrasme declarou que a conduta do prefeito é incompatível com os princípios democráticos e com o que rege o Sistema Único de Saúde, alertando que gestores públicos não podem impor regras ideológicas que contrariem as leis federais.
O IMUNE/MT também repudiou a atitude de Brunini, que classificou como “intolerante” e “inaceitável”, defendendo que debates sobre inclusão devem ocorrer de maneira respeitosa e democrática.
Resposta da Prefeitura de Cuiabá
Em nota oficial, a Prefeitura de Cuiabá alegou que o uso de linguagem neutra está proibido em eventos patrocinados pelo Executivo municipal, sob justificativa de preservar “a norma culta da língua portuguesa” e “a neutralidade ideológica das ações públicas”.
A gestão ainda afirmou que todos têm espaço na administração, independentemente de raça, orientação sexual ou posição política, mas ressaltou que “manifestações ideológicas não devem interferir na condução técnica das políticas públicas”.
Apesar disso, o episódio provocou ampla repercussão negativa e levantou críticas sobre autoritarismo e censura nos espaços institucionais da cidade.
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