No coração do sul do Espírito Santo, o município de Presidente Kennedy ostenta uma das maiores receitas públicas per capita do Brasil, turbinada pelos royalties do petróleo.
No entanto, por trás do aparente progresso financeiro, esconde-se um cenário de miséria social, colapso institucional e uma teia de corrupção que envolve figuras-chave da administração municipal.
Uma das personagens centrais — e mais controversas — deste enredo é o procurador-geral do município, Rodrigo Lisboa Corrêa, advogado de carreira e figura reincidente no centro do poder local, mesmo sob o peso de graves acusações e ações judiciais.
O cardeal do Sul capixaba
Rodrigo Lisboa, que já integrava a gestão de Dorlei Fontão, ex-prefeito cassado por tentativa de terceiro mandato, permanece com influência notável na administração interina de Júnior Gromobol (PSB).
Apontado por fontes internas como o “Richelieu kenedense” — em referência ao cardeal francês que comandava nos bastidores do trono — Lisboa atua como articulador político, operador jurídico e, segundo relatos, verdadeiro comandante informal da prefeitura.
Embora sua permanência no cargo de procurador cause espanto entre críticos e servidores públicos, ela se explica pela complexa rede de interesses que ele ajuda a sustentar, mesmo diante de um cenário de completa instabilidade.
Corrupção, fraudes e esquemas com “laranjas”
Lisboa é um dos alvos de uma Ação Civil Pública por Improbidade Administrativa, movida pelo Ministério Público Estadual (MP-ES). Segundo a denúncia, ele teria sido o principal articulador de um esquema de fraude em licitações de contratos milionários com empresas de segurança privada entre 2020 e 2022.
As investigações apontam que empresas “irmãs”, como a Mundial Serviços de Vigilância e a Multlimpe Conservadora, compartilhavam estrutura física e contábil para vencer licitações de forma fraudulenta, com o uso de sócios-laranja para simular concorrência. O prejuízo ao erário ultrapassa R$ 1 milhão por ano.
Na denúncia, o promotor Elion Vargas Teixeira acusa Lisboa de atuar para “blindar” os contratos e interferir nos órgãos de controle interno e externo, comprometendo a integridade do processo licitatório.
Apesar da gravidade das acusações, o advogado segue exercendo seu cargo com ampla influência — e sob forte aparato de segurança.
Clima de violência e ameaças de morte
O ambiente político de Presidente Kennedy está longe de ser apenas turbulento — é perigoso.
Recentemente, o procurador registrou um Boletim de Ocorrência denunciando uma ameaça de morte feita por Gilbert Wagner Antunes Lopes, o Waguinho Batman, miliciano acusado de ser o mandante do assassinato do vereador Marquinhos da Cooperativa (PL), ocorrido há três anos.
Lisboa relata que a ameaça se deu por meio de áudios enviados pelo miliciano, que está foragido da Justiça. Segundo o procurador, a motivação seria o seu suposto apoio às investigações sobre o crime — uma prerrogativa natural do cargo que ocupa, mas que teria irritado membros de esquemas criminosos infiltrados na política local.
Fontes do próprio governo relatam que Lisboa vive em estado de alerta constante: dorme em locais diferentes, conta com segurança armada e guarda até mesmo na porta do banheiro.
“A situação dele beira a paranóia”, revela um servidor da prefeitura sob condição de anonimato.
A justiça e o silêncio dos órgãos de controle
Além da ação movida pelo MP-ES, há indícios de que Lisboa mantém interlocução com setores do Judiciário estadual e até do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o que levanta suspeitas sobre um possível “aparelhamento” das instituições que deveriam fiscalizar a administração pública.
A lentidão das investigações e a permanência de figuras como Lisboa nos postos de comando acentuam o sentimento de impunidade.
“A população vive o abandono: faltam remédios nos postos, professores nas escolas, mas sobra dinheiro para contratos escusos”, critica uma professora da rede municipal.
Com uma eleição anulada, um prefeito interino e uma cidade à beira do colapso institucional, Presidente Kennedy vive uma instabilidade sem precedentes.
Enquanto a Justiça não decide o futuro político da cidade, Rodrigo Lisboa continua operando como um personagem-chave — uma espécie de eminência parda que, mesmo sitiado por denúncias, segue intacto no comando de um dos municípios mais ricos (e mais conflituosos) do Espírito Santo.
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