As recentes declarações do presidente da Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales), Marcelo Santos (União Brasil/Progressistas), estão provocando abalos políticos e institucionais no estado. Em entrevista à rádio Litorânea FM, de Marataízes, no sul capixaba, o parlamentar disparou críticas contundentes ao governo federal, aos parlamentares capixabas em Brasília e à condução de projetos estruturantes como a ferrovia EF-118 — essencial para o desenvolvimento do Porto Central, em Presidente Kennedy.
Sem meias palavras, Santos afirmou que a ferrovia “não saiu do papel e não vai sair”, pondo em xeque o futuro do maior projeto logístico do Espírito Santo. Para ele, a ausência de ações concretas evidencia o abandono federal ao estado.
“Veja bem o que acontece no Congresso Nacional: o que Brasília produz pra gente? Nada! É só briga e quem paga a conta é o povo”, disparou o deputado, que é pré-candidato à Câmara Federal em 2026.
As falas de Santos repercutiram como um golpe duplo: de um lado, colocam em dúvida a viabilidade logística do Porto Central, que depende da ferrovia EF-118 para conectar o terminal ao Sudeste; de outro, provocam um racha político interno ao atingirem diretamente o vice-governador Ricardo Ferraço (MDB), pré-candidato ao governo estadual.
Ferrovia estratégica, mas sem trilhos
A ferrovia EF-118, prevista para ligar Santa Leopoldina (ES) a Nova Iguaçu (RJ), passando por Anchieta e pelo Porto Central, possui 575 km de extensão planejada. Seu trecho inicial, de 80 km, está sob responsabilidade da mineradora Vale, como contrapartida pela renovação antecipada da concessão da Estrada de Ferro Vitória-Minas (EFVM). Porém, nenhuma etapa saiu do papel até hoje.
O restante do traçado está condicionado a novos estudos e concessões, incluindo um trecho de 170 km entre Anchieta e o Porto do Açu (RJ), e outro de 325 km até Nova Iguaçu. O modelo de financiamento ainda depende de reequilíbrio contratual e definição da bitola ferroviária, fatores que tornam o projeto mais complexo e distante de sair do papel em curto prazo.
Impacto político e disputa interna
Além da crítica à infraestrutura federal, Marcelo Santos também atingiu diretamente a pré-candidatura de Ricardo Ferraço, ao sugerir que o grupo político poderá buscar um “plano B” caso sua pré-candidatura não avance. A declaração foi vista como uma tentativa de esvaziar o nome de Ferraço dentro da base do governo estadual.
A resposta veio em tom firme por meio do deputado federal Gilson Daniel (Podemos), durante um evento com prefeitos no Norte capixaba:
“Ricardo Ferraço não é o Plano A. Ele é o Plano Único”, afirmou em vídeo publicado nas redes sociais.
As declarações de Santos também criam embaraços para o governador Renato Casagrande (PSB), cujo partido integra a base do presidente Lula. As críticas públicas ao governo federal e à representação do Espírito Santo em Brasília minam o discurso de alinhamento político e revelam fissuras dentro da própria base aliada estadual.
🧭 Futuro incerto
O episódio escancara o grau de descrença política em relação aos projetos de infraestrutura no Espírito Santo. Com uma ferrovia emperrada, uma rodovia federal (BR-101) ainda sem duplicação em muitos trechos e a pressão pelo desenvolvimento do Porto Central, a fala de Marcelo Santos pode ser o reflexo de um projeto que corre risco de naufragar antes mesmo de ser construído.
Para os moradores do sul capixaba e investidores do setor logístico, o recado é claro: falta articulação, sobra ruído político e o futuro do Porto Central depende, cada vez mais, de vontade política real.
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