A violência contra crianças em conflitos armados atingiu níveis sem precedentes em 2024, segundo relatório anual da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado nesta quinta-feira (19) pelo secretário-geral António Guterres. Houve um aumento de 25% no número de violações graves em relação ao ano anterior, incluindo assassinatos, mutilações, sequestros, violência sexual e negação de acesso a ajuda humanitária.
Ao todo, foram confirmadas 11.967 crianças vitimadas, sendo 4.676 assassinadas e 7.291 mutiladas. Outras 7.906 violações envolveram a negação de acesso humanitário, 7.402 crianças foram recrutadas ou usadas em conflitos, e 4.573 menores foram sequestrados.
“Crianças foram mortas e mutiladas, muitas vezes com incapacidades permanentes, por explosivos, minas e fogo cruzado. Ataques a escolas e hospitais agravaram sua vulnerabilidade”, aponta o relatório da ONU.
Apesar da atuação de grupos armados não estatais ser responsável por quase metade das violações, as forças governamentais foram apontadas como principais perpetradoras de mortes, mutilações, ataques a instalações civis e bloqueio de assistência humanitária.
Principais regiões afetadas
- Territórios Palestinos Ocupados (8.554 violações)
A Faixa de Gaza, sob cerco israelense, concentrou 4.856 casos. Foram 4.470 crianças assassinadas ainda pendentes de verificação. A ONU verificou 951 detenções de crianças palestinas, além de casos de desaparecimentos e 1.561 mutilações. - República Democrática do Congo (4.043 violações)
Crianças foram amplamente recrutadas por milícias como Raia Mutomboki. Também houve 438 mortes ou mutilações, muitas provocadas por operações militares ou explosivos. A violência tem raízes na disputa por minerais no leste do país. - Somália (2.568 violações)
Com presença constante do grupo Al-Shabaab, foram confirmadas 595 vítimas fatais ou mutiladas, além de casos de recrutamento forçado e violência sexual. A insegurança dificulta esforços de reconstrução no país africano. - Nigéria (2.436 violações)
Crianças foram recrutadas à força por grupos extremistas como Boko Haram e ISWAP. Foram registradas 419 vítimas de violência sexual, especialmente casamentos forçados, e 732 detenções de crianças por suposta associação a grupos armados. - Haiti (2.269 violações)
A violência de gangues armadas provocou 351 assassinatos ou mutilações infantis, além de 566 casos de violência sexual, principalmente contra meninas. Crianças também foram detidas ou recrutadas por forças de segurança e grupos criminosos.
Outros destaques preocupantes
- Líbano registrou um aumento de 545% nas violações em relação ao ano anterior.
- Moçambique, Etiópia, Ucrânia e Haiti também apresentaram aumentos superiores a 100% nas violações graves contra crianças.
- Casos de violência sexual cresceram 35%, com aumento do uso de estupros coletivos como arma de guerra, inclusive envolvendo meninas sequestradas para escravidão sexual e recrutamento.
Negação de ajuda humanitária em escala alarmante
A ONU ainda denunciou a escalada da negação de acesso humanitário, com mais trabalhadores humanitários mortos do que nunca. Ataques a comboios e bloqueios administrativos impedem o acesso de crianças a saúde, educação e proteção.
“As crianças ficaram sem atendimento essencial por ataques e restrições impostas por partes em conflito”, conclui o relatório.
O documento da ONU faz um apelo urgente para a responsabilização dos autores, a proteção das crianças nos conflitos e o reforço da ajuda humanitária. Para o secretário-geral António Guterres, a situação atual representa “uma crise ética global”.
Com informação da Agência Brasil.Compartilhe esta reportagem do Giro Capixaba, o melhor site de notícias do Estado do Espírito Santo.
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