A entrada direta dos Estados Unidos no conflito entre Israel e Irã representa mais do que uma reação pontual ao programa nuclear iraniano. Segundo o historiador e analista geopolítico Rodolfo Queiroz Laterza, a ação norte-americana se insere em uma disputa global por rotas comerciais estratégicas, especialmente as promovidas pela China e pela Rússia na região da Eurásia.
“Os EUA estão se reorientando para um confronto de longo prazo na Ásia-Pacífico e tentando retirar o Irã do contexto geoeconômico construído por China e Rússia através da rota Transcaspiana, que alijaria a Europa das rotas comerciais controladas pelo eixo atlanticista”, explica Laterza.
A rota Transcaspiana conecta a China à Europa via Cazaquistão, Azerbaijão, Mar Cáspio e Turquia. Para o analista, o verdadeiro objetivo da guerra é impedir que o Irã se consolide como elo estratégico na chamada Nova Rota da Seda – iniciativa chinesa lançada em 2013 – e na União Econômica Eurasiática, bloco liderado pela Rússia. O Irã firmou acordo de livre comércio com essa união em 2024.
“O Irã é peça-chave nesse tabuleiro. Alavancaria tanto a Rota da Seda quanto a União Econômica Eurasiática. Excluir Teerã do corredor euroasiático representa fragilizar a integração entre Ásia e Europa fora do controle do Ocidente”, afirma Laterza.
Essa análise contrasta com a justificativa oficial dos EUA e de Israel, que alegam agir para impedir o desenvolvimento de armas nucleares por parte do Irã — algo que Teerã nega veementemente. Apesar das acusações, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) reconheceu que não possui provas de que o Irã esteja fabricando uma bomba nuclear.
O ataque lançado pelos EUA no último sábado (21) mirou três usinas nucleares iranianas: Fordow, Natanz e Esfahan. A ação ocorreu após um ataque surpresa de Israel contra o Irã no dia 13, que ampliou a guerra no Oriente Médio.
Contudo, para Laterza, os objetivos militares não foram plenamente alcançados. “A usina nuclear de Fordow não foi totalmente destruída. O ataque pode ter mais valor simbólico e midiático do que impacto estratégico real”, avalia.
O analista também considera que os EUA buscam criar escassez energética, dificultando o acesso da Europa e da China ao petróleo iraniano, como forma de pressionar esses blocos a aceitar novos termos comerciais impostos por Washington.
Por outro lado, o professor de Relações Internacionais da UnB, Roberto Goulart Menezes, avalia que ainda é cedo para afirmar até onde irá o envolvimento dos Estados Unidos na guerra. “Israel não está agindo sozinho. Os EUA deram seu apoio direto. Mas ainda não está claro se haverá uma tentativa real de derrubada do regime iraniano”, pondera.
O presidente Donald Trump, que autorizou o ataque sem aval do Congresso, chegou a sugerir uma “mudança de regime” em postagem nas redes sociais. Segundo ele, se o governo atual do Irã não é capaz de tornar o país “grande novamente”, haveria motivos para substituí-lo.
Para Laterza, esse tipo de discurso reflete uma “fantasia ocidental”. “Após 45 anos de sanções, o Irã não só sobreviveu como fortaleceu sua posição. Sua liderança foi forjada pela resistência e não cairá facilmente”, conclui.
*Com informação da Agência Brasil. Compartilhe esta reportagem do Giro Capixaba, o melhor site de notícias do Estado do Espírito Santo.
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