Nas montanhas do Espírito Santo, produtores rurais encontraram uma fórmula para driblar a sazonalidade e colher abacate praticamente o ano todo. A estratégia combina o cultivo de diferentes variedades da fruta com o uso inteligente da altitude, aproveitando as características únicas da região serrana.
Variedades como o Geada, de São Paulo, e o Margarida, do norte do Paraná, além de tipos nativos capixabas, são cultivadas em altitudes variadas, o que permite escalonar as colheitas ao longo dos meses. Venda Nova do Imigrante, na região Sul do estado, se destaca como principal polo produtor de abacate no Espírito Santo.
“O clima tropical de altitude favorece muito. A cultivar Geada, por exemplo, produz de janeiro a março em altitudes de 700 a 800 metros. Já a Margarida é colhida entre setembro e novembro em regiões mais altas, chegando a mil metros. Assim, conseguimos ter colheita praticamente o ano inteiro”, explica o doutor em entomologia e especialista na cultura do abacate, Maurício Fornazier.
O resultado dessa estratégia já aparece nos números. O Espírito Santo foi o quarto maior produtor de abacate do Brasil em 2023, com 34.126 toneladas colhidas — um crescimento de 36,55% em relação ao ano anterior.
Seis tipos de abacate na mesma propriedade
Na propriedade do agricultor Alberto Faqueto, em Venda Nova do Imigrante, seis variedades foram selecionadas após testes cuidadosos.
“Nós experimentamos 40 variedades. No final, ficaram seis. Quatro são nativas daqui, além do Geada e do Margarida, que se adaptaram muito bem”, contou Faqueto.
Apesar de não exigir cuidados diários intensivos, o produtor reforça a importância do monitoramento constante. “Toda semana a gente tem que passar na lavoura. Sempre pode ter alguma surpresa”, diz.
A colheita é feita de forma majoritariamente manual. Os frutos mais baixos são colhidos com as mãos e os mais altos, com uma vara equipada com rede.
Altitude define o tempo da colheita
A altitude é determinante para o período de colheita. Em propriedades a 600 metros, o Geada é colhido entre dezembro e março. Já em altitudes próximas a mil metros, como na propriedade de Miguel Quaioto, o mesmo Geada amadurece mais tarde, chegando a ser colhido só após março.
“Aqui é mais alto, e isso faz o Geada demorar mais. Enquanto outros já estavam colhendo, aqui ele ainda não tinha chegado no ponto”, explicou Quaioto.
Consórcio agrícola fortalece a produção
Outra prática adotada é o consórcio de culturas. Abacateiros, bananeiras e pés de café dividem o mesmo espaço, beneficiando-se mutuamente. As bananeiras ajudam na sombra e umidade, enquanto o café e outros cultivos fornecem matéria orgânica.
Além disso, a biodiversidade no pomar atrai predadores naturais como joaninhas e pássaros, que auxiliam no controle de pragas.
Desafios com pragas e doenças
Entre os principais desafios estão a ferrugem, que afeta apenas a aparência do fruto, e a broca, que compromete desde a fruta nova até a colheita. A broca exige atenção constante, pois sua infestação aumenta ao longo do tempo, especialmente nas variedades de ciclo mais longo.
“Se o produtor não controlar no início, a população cresce e pode comprometer as colheitas seguintes”, alerta Fornazier.

Clima ideal e impacto nos preços
O clima das montanhas capixabas — quente, úmido e com boa luminosidade — é ideal para o desenvolvimento do abacateiro. Mesmo com uma seca acima da média no último ano, a produtividade se manteve boa, segundo Evaldo de Paulo, coordenador do Incaper.
A antecipação da maturação, provocada por altas temperaturas, gerou escassez no mercado e elevou os preços do fruto no final de 2024.
“A produção se manteve, mas a colheita veio mais cedo. Chegou dezembro, praticamente não tinha abacate no mercado, e o preço disparou”, destacou Evaldo.
O modelo capixaba prova que, com planejamento, tecnologia e uso inteligente dos recursos naturais, é possível transformar a produção rural e garantir renda o ano inteiro.
*Da Agência Fonte Exclusiva com informações do G1. Compartilhe esta notícia do Giro Capixaba, o melhor site de notícias do Estado do Espírito Santo.
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