O tradicional Bumba-meu-boi, reconhecido pela Unesco como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade desde 2019, será o tema da próxima edição do Caminhos da Reportagem, que vai ao ar nesta segunda-feira (21), às 23h, na TV Brasil.
O programa retrata a riqueza histórica e cultural dessa manifestação popular, cujos primeiros registros datam da primeira metade do século XIX, embora suas raízes sejam ainda mais antigas. No Maranhão, cerca de 450 grupos participam das celebrações entre os meses de maio e julho — algumas se estendem até dezembro.
Carlos Benedito, coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da UFMA, ressalta que o Bumba-meu-boi nasceu no período da escravidão. “Os escravizados traziam tudo em sua memória: ritos, crenças, linguagens, que foram reinventados no Brasil”, afirma. A tradição também reflete influências indígenas, perceptíveis na dança e nos instrumentos musicais, além de sincretismos religiosos, especialmente com o catolicismo popular.
A cientista social Izaurina Nunes, do Iphan, destaca a relação da festa com o sincretismo religioso. “São Pedro, por exemplo, é sincretizado com Xangô nos cultos afro-brasileiros. Há promessas e obrigações feitas aos santos durante essas celebrações”, explica.
O programa ainda explora os diferentes “sotaques” do Bumba-meu-boi — como zabumba, matraca, baixada, orquestra e costa de mão — e o surgimento dos batalhões a partir de promessas ou sonhos. Um dos exemplos é o Boi Anjo do Meu Sonho, criado por Arcangelo Reis após uma visão. “Para mim, largar esse boi só depois que Deus me levar. Criei amor por essa brincadeira”, conta.
Além de ser uma expressão cultural viva, o Bumba-meu-boi movimenta uma cadeia econômica importante para as comunidades envolvidas. A artesã Géssica Tavares, por exemplo, começou seu negócio aos 18 anos, personalizando camisetas. Hoje, também vende matracas customizadas durante as festas, atendendo tanto turistas quanto moradores locais.
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