O projeto Caminhos do Trabalho, coordenado pela Fundacentro, atendeu 1.039 pessoas individualmente até junho de 2025. Dessas, 93,6% relataram ter sofrido acidentes relacionados ao trabalho, e em 82,3% dos casos foi identificado o nexo causal entre o agravo e a atividade profissional. Os dados foram apresentados durante o II Encontro Nacional do Caminhos do Trabalho, realizado nos dias 14 e 15 de julho, na sede da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego da Bahia (SRTE/BA), em Salvador.
Entre os agravos relatados, destacam-se os de ordem osteomuscular (46%) e psíquica (46%), com nexo confirmado em 87,3% e 84,8% dos atendimentos, respectivamente. Os trabalhadores também relataram movimentos repetitivos (77,7%), uso de medicação (71,6%), ritmo acelerado (58,4%), tristeza (52,3%) e assédio no trabalho (38,6%). Para 64%, houve exigência excessiva de si mesmos, e 52% consideraram o trabalho penoso.
Abrangência nacional
As pessoas atendidas atuam em 305 atividades econômicas, distribuídas por 165 cidades em 17 unidades federativas. Os estados com maior número de atendimentos são Minas Gerais (367), Bahia (306) e Santa Catarina (137). O projeto também está presente em unidades do Amazonas, Ceará, Distrito Federal, Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraíba, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, São Paulo, Sergipe e Tocantins.
Quanto à forma de acesso ao projeto, 249 pessoas foram indicadas por outros trabalhadores, 203 vieram do fluxo interno de hospitais da rede Ebserh, 113 por sindicatos ou associações de classe, 79 por órgãos de saúde como Cerest, Caps ou unidades do SUS, e 69 por busca ativa feita por integrantes do projeto.
Atendimento gratuito e interdisciplinar
O projeto oferece orientação jurídica, avaliação médica do nexo causal, emissão de Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) e outros documentos pertinentes. Também oferece apoio nas esferas trabalhista e previdenciária. A atuação ocorre por meio de parcerias entre a Fundacentro e universidades públicas em 13 cidades do país.
Debate nacional
Durante o II Encontro Nacional, representantes de universidades parceiras — como UFBA, UFMG, UFJF, UFU, UFSC, UFMA, UFF, Unifesp, UnB, UFSCar, UFRGS e UFT — compartilharam desafios e soluções enfrentados no projeto. Três mesas de debate trataram de temas sensíveis à área:
- Desafios nas perícias do INSS e argumentos empresariais para negar o nexo causal, com participação de Paulo Pena (UFBA), Carol Brasileiro (UFMG) e Maria Maeno (Fundacentro).
- Dificuldades no acesso a benefícios previdenciários, com exposições do procurador do trabalho Ilan Fonseca de Souza e do procurador federal Osvaldo Almeida Neto, que também se mostraram dispostos a colaborar com a Fundacentro para aprimorar os procedimentos do INSS.
- Identificação do nexo entre adoecimento psíquico e o trabalho, tema central para as unidades do projeto, debatido pelo psiquiatra Carlos Tadeu, o médico Roberto Ruiz e o professor Bruno Chapadeiro (UFF).
Autoridades destacam importância do combate à subnotificação
Na mesa de abertura, autoridades reforçaram a importância da cooperação interinstitucional para enfrentar a ocultação do adoecimento laboral. Participaram o presidente da Fundacentro, Pedro Tourinho, o procurador-chefe da PRT 5ª Região, Maurício Ferreira Brito, a chefe da Fiscalização em Saúde e Segurança do Trabalho da SRTE/BA, Lidiane de Araújo, a juíza do TRT5, Adriana Manta, a diretora de Atenção à Saúde da Ebserh, Viviane Reis Couto, e o coordenador nacional do projeto Caminhos do Trabalho, Vitor Filgueiras.
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