O Ministério Público do Espírito Santo (MPES) obteve duas vitórias estratégicas na guerra contra o crime organizado nesta semana. Enquanto a Justiça renovava por três anos a prisão federal de cinco líderes do Primeiro Comando de Vitória (PCV), uma nova operação resultava em 12 prisões em três estados. O timing não é coincidência: a ação ocorre no momento em que Vila Velha vive uma escalada de violência territorial que já deixou três mortos e nove feridos.
A 2ª Vara Criminal de Viana acatou o pedido do MPES para manter João de Andrade, Carlos Alberto Furtado da Silva, Geovani de Andrade Bento e Giovani Otacílio de Souza em presídios federais de segurança máxima. Pablo Bernardes, que havia retornado ao Espírito Santo, foi novamente transferido para unidade federal. A decisão se baseou em relatórios técnicos da Subsecretaria de Inteligência Prisional que comprovaram: mesmo atrás das grades, os cinco continuavam comandando operações criminosas.
O comando à distância
As investigações revelaram um sofisticado sistema de comunicação. Os líderes do PCV, mesmo isolados na Penitenciária de Segurança Máxima II (PSMA-II), transmitiam ordens através de familiares e advogados. Uma rede que permitia coordenar desde o tráfico de drogas até execuções sumárias.
A Justiça não apenas manteve os chefes em presídios federais como proibiu o ingresso de um advogado e um familiar nas unidades prisionais, reconhecendo oficialmente seu papel na transmissão de comandos criminosos.
“A permanência desses indivíduos no sistema federal é essencial para evitar a recomposição do comando único da organização criminosa”, argumentou o MPES.
Os números comprovam a eficácia da estratégia: relatórios da Subsecretaria de Inteligência Prisional mostram que a transferência dos líderes provocou desarticulação da facção, surgimento de grupos dissidentes e redução significativa do poder de comando.
Operação “Todo Mundo em Pânico”
Simultaneamente, o GAECO/MPES deflagrou a segunda fase da Operação “Todo Mundo em Pânico”, que resultou na denúncia de 12 pessoas ligadas ao PCV. A operação mobilizou forças de segurança de três estados, cumprindo 10 mandados de prisão preventiva e 5 de busca e apreensão em Serra (ES), Belo Horizonte (MG), Nova Era (MG), Teixeira de Freitas (BA) e Mucuri (BA).
O saldo das ações: R$ 24.750 apreendidos em espécie, uma balança de precisão e duas prisões estratégicas em Porto Seguro (BA). Um dos detidos foi identificado como principal fornecedor de drogas e armamento para o PCV, além de manter vínculos com o Comando Vermelho (CV). O segundo estava foragido do sistema prisional mineiro desde 2022.
A guerra de Vila Velha
O contexto que justifica a ofensiva do MPES é dramático. A região da Grande Terra Vermelha, em Vila Velha, vive uma guerra territorial entre o PCV e o Terceiro Comando Puro (TCP). Em menos de uma semana, o conflito produziu três mortes e nove feridos, revelando a capacidade bélica das facções.
O PCV controla 20 dos 22 bairros da Região 5 de Vila Velha, segundo a Polícia Civil, mas tenta expandir seu domínio para territórios do TCP.
A escalada da violência está diretamente ligada à prisão de Lucas de Almeida Bernardo, apontado como liderança do TCP, em maio deste ano.
Com o enfraquecimento do comando rival, criminosos do PCV aproveitaram para avançar sobre áreas controladas pelo grupo adversário, alimentando uma guerra marcada por tiroteios com fuzis e execuções sumárias.
A manutenção dos líderes do PCV em presídios federais não é apenas uma medida punitiva, mas uma estratégia de desarticulação. A transferência, iniciada em 2021 com a Operação Armistício, fragmentou a organização criminosa. Os relatórios técnicos mostram que a facção perdeu coesão, surgindo grupos dissidentes que competem entre si.
“O retorno dos apenados ao sistema estadual representaria um grave e inaceitável risco à segurança pública”, destacou a decisão judicial. A avaliação se baseia em evidências concretas: mesmo presos, os cinco líderes continuavam ordenando ações violentas dentro e fora das unidades prisionais.
Força-tarefa interestadual
A Operação “Todo Mundo em Pânico” demonstra a complexidade do combate ao crime organizado moderno. Participaram das ações a Polícia Militar do Espírito Santo, Ministérios Públicos da Bahia e Minas Gerais, Secretaria de Segurança Pública da Bahia, Polícia Civil da Bahia, Força-Tarefa da Polícia Federal em Porto Seguro, Polícia Rodoviária Federal e grupos especializados de três estados.
A coordenação revela a dimensão nacional das operações do PCV, que mantém conexões com o Comando Vermelho e opera uma rede de fornecimento de drogas e armamentos que transcende fronteiras estaduais.
Dos 12 denunciados, quatro permanecem foragidos, sinalizando que a ação do MPES terá novos desdobramentos. Os cinco mandados de prisão cumpridos em unidades prisionais capixabas revelam que a facção mantinha estrutura ativa mesmo com seus líderes em presídios federais.
A tramitação dos processos na 4ª Vara Criminal de Serra indica que os réus enfrentam acusações de integrar organização criminosa, tráfico de drogas e associação para o tráfico. As penas podem ultrapassar décadas de prisão, especialmente considerando o contexto de guerra territorial que assola Vila Velha.
A dupla ofensiva do MPES – mantendo líderes em presídios federais e desarticulando a rede operacional – representa uma abordagem inovadora no combate ao crime organizado. Os resultados em Vila Velha serão o teste definitivo da eficácia desta estratégia contra uma das facções mais poderosas do Espírito Santo.
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