A gripe aviária, provocada pelo vírus influenza A (H5N1), tem causado alarme global por seu potencial de mutação e impacto em aves, mamíferos e humanos. Embora não haja, até o momento, transmissão sustentada entre pessoas, especialistas alertam para o risco real de o vírus sofrer mutações que permitam a disseminação entre humanos — o que pode resultar em uma nova pandemia.
Em entrevista ao Instituto Butantan, o pesquisador Paulo Lee Ho explicou que o vírus já é capaz de passar entre aves, de aves para humanos e até entre mamíferos. “Só não vimos ainda a transmissão de pessoa para pessoa, mas existe um potencial do vírus adquirir essa capacidade, o que é muito perigoso”, alerta.
Casos e risco pandêmico
Desde 2003, a Organização Mundial da Saúde (OMS) registrou 976 infecções humanas em 25 países, com 470 mortes – uma taxa de letalidade de 48,2%. Só em 2025, foram 13 casos e 5 mortes. Apesar disso, a OMS ainda considera baixo o risco imediato de pandemia, embora recomende vigilância constante.
O H5N1 já causou mortandade em massa entre aves selvagens e domésticas, e também entre mamíferos como focas, ursos e bovinos. A disseminação global se intensificou a partir de 2020 e chegou às Américas em 2022.
Há risco ao consumir carne de frango?
Não, segundo o Butantan. O vírus não resiste ao cozimento, portanto, o consumo de carne de frango ou ovos bem cozidos é seguro. Contudo, não se deve manipular aves mortas ou doentes sem proteção, especialmente em áreas rurais, granjas ou feiras livres.
O consumo de leite também exige cuidado: o ideal é sempre optar por leite fervido ou pasteurizado, já que casos em vacas leiteiras foram registrados fora do Brasil.
E se o vírus passar a ser transmitido entre pessoas?
Segundo o Butantan, o risco se torna real quando o vírus supera a barreira de transmissão ave-humano e adquire capacidade de transmissão humana-humana. Foi o que ocorreu com pandemias anteriores, como:
- Gripe espanhola (1918): matou mais de 50 milhões;
- Gripe asiática (1957) e de Hong Kong (1968): ceifaram milhões;
- Gripe suína A(H1N1) (2009): matou até 395 mil pessoas, mas foi controlada por vacinas.
Butantan prepara vacina contra gripe aviária
O Instituto Butantan tem uma vacina candidata baseada no vírus H5N8, semelhante ao H5N1, que já foi testada com sucesso em modelos animais. O imunizante usa a mesma plataforma da vacina da gripe sazonal, e os estudos estão em fase de análise pela Anvisa para possível avanço clínico.
O instituto também desenvolveu um adjuvante próprio (IB160) que aumenta a eficácia da vacina, e pretende iniciar a produção em escala industrial até o começo de 2026. Com isso, o Brasil poderá ter autonomia na produção de vacinas contra possíveis pandemias causadas pelo H5N1.
Ainda que a gripe aviária não represente um risco imediato para humanos, o histórico de pandemias e a constante mutação do vírus exigem monitoramento contínuo, pesquisa e preparação. O Butantan, com apoio de instituições internacionais, lidera a resposta preventiva no Brasil, com foco na produção de vacinas e orientação à população.
A gripe aviária é um alerta de que a vigilância em saúde deve ser constante – e que investir em ciência é fundamental para o enfrentamento de futuras emergências sanitárias.
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