O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quinta-feira (17), em entrevista à jornalista Christiane Amanpour, da CNN Internacional, que o Brasil está disposto a negociar com os Estados Unidos, mas que não aceitará imposições, como a tarifa de 50% aplicada pelo presidente norte-americano Donald Trump sobre produtos brasileiros.
“O Brasil não aceitará nada que lhe seja imposto. Aceitamos negociação, não imposição”, declarou Lula. “Não queremos nos livrar dos EUA, nem brigar com ninguém. O que não queremos é ser feitos de reféns. Queremos ser livres”, afirmou.
Lula também criticou o conteúdo de uma carta divulgada por Trump, em que o ex-presidente dos EUA acusa o Brasil de perseguir Jair Bolsonaro e afirma que o país estaria desrespeitando o ex-mandatário. O presidente brasileiro classificou o gesto como “inaceitável interferência em assuntos internos”.
“O Judiciário brasileiro é independente. Não sou eu quem acusa Bolsonaro, é a Corte Suprema”, disse, ao lembrar que uma das acusações contra o ex-presidente envolve uma suposta conspiração golpista que incluía até mesmo seu assassinato. “Eu também fui julgado pelo STF e, mesmo após perder três eleições, jamais cogitei um levante”, completou.
Negociação com respeito
Lula lembrou que o Brasil vem tentando, há meses, abrir canais diplomáticos com os EUA. Propostas já teriam sido enviadas ao governo norte-americano, mas, segundo ele, não houve resposta formal. “Em vez disso, vimos declarações públicas feitas fora da via diplomática”, criticou.
O presidente voltou a destacar que o caminho é o diálogo, mas que isso exige respeito mútuo. “Trump foi eleito para governar os EUA, não o mundo. O Brasil merece respeito, e Trump precisa nos respeitar assim como nós respeitamos os EUA”, afirmou.
Ele também rebateu a alegação de Trump de que a relação comercial entre os dois países seria prejudicial aos norte-americanos. “Essa argumentação não procede”, disse.
Medidas de reciprocidade
Lula afirmou ainda que está discutindo o impacto das tarifas com empresários e representantes do setor agropecuário, e que a prioridade é buscar uma solução diplomática. No entanto, deixou claro que, se necessário, o Brasil poderá acionar a Lei de Reciprocidade, que autoriza a imposição de tarifas a países que adotem barreiras unilaterais contra produtos brasileiros.
“Daremos uma resposta, mas tentaremos primeiro uma solução pela via diplomática. Eu respeito o Trump, mas também quero ser respeitado”, ressaltou, destacando que sempre manteve boas relações com presidentes anteriores dos EUA.
Ideologia não deve impedir diálogo
Questionado sobre as diferenças ideológicas entre ele e Trump, Lula minimizou o tema. “Não sou um presidente progressista. Sou o presidente do Brasil. Trump também não é só um presidente de direita, é o presidente dos EUA. Ambos fomos eleitos por nossos povos”, afirmou.
Críticas à ONU e aos gastos militares
Durante a entrevista, Lula também abordou temas internacionais, como os conflitos na Ucrânia e em Gaza. Ele considerou positiva a disposição de Trump para buscar negociações de paz, mas criticou o aumento dos gastos militares pelos EUA. “O mundo precisa de comida, não de armas”, declarou.
Lula voltou a criticar a ineficácia do Conselho de Segurança da ONU na mediação de conflitos e cobrou mais articulação entre os países-membros. “Sem interlocução, as guerras continuam. Todo dia há novos bombardeios em Gaza. Os membros do Conselho precisam reconhecer que não estão conseguindo encontrar soluções”, concluiu.
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