A reunião de cúpula do Brics, que ocorre esta semana no Rio de Janeiro, deve servir como uma plataforma antecipada de discussões climáticas que estarão no centro da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), marcada para novembro em Belém (PA). O Brasil, anfitrião dos dois eventos, espera fortalecer a articulação entre os países do grupo e avançar em compromissos concretos relacionados à crise climática.
Composto atualmente por 11 países — Brasil, China, Rússia, Índia, África do Sul, Indonésia, Irã, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita — o Brics é visto pelo governo brasileiro como um espaço estratégico para construir soluções globais sustentáveis com base em cooperação e solidariedade.
“A expectativa do Brasil é que o grupo impulsione resultados ambiciosos para a COP30, respeitando os princípios da Agenda 2030 e propondo uma nova liderança climática baseada na equidade entre os povos”, destacou o Ministério das Relações Exteriores.
Em maio, os países-membros aprovaram um documento com recomendações para os líderes, incluindo sugestões sobre financiamento climático, reforma de bancos multilaterais, ampliação do crédito concessional e estratégias para atrair capital privado.
Financiamento climático no centro das discussões
Segundo a secretária de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Tatiana Rosito, as propostas refletem a preocupação crescente com a mobilização de recursos para uma transição energética justa. O tema vem sendo amplamente debatido em fóruns multilaterais, como a recente reunião preparatória da ONU para a COP30, realizada em Bonn, Alemanha, que tratou do desafio global de arrecadar US$ 1,3 trilhão em financiamento climático.
A professora Maureen Santos, do Brics Policy Center, acredita que compromissos concretos do Brics sobre financiamento climático representariam um avanço importante. “Uma declaração conjunta nessa direção anteciparia o debate da COP30, especialmente sobre o framework de transição justa”, destacou.
Pressão para entrega das metas climáticas (NDCs)
Outro ponto sensível envolve a entrega das NDCs — as contribuições nacionalmente determinadas de cada país para reduzir emissões de gases do efeito estufa. Dos quase 200 signatários do Acordo de Paris, apenas 28 apresentaram atualizações desde novembro. No Brics, somente Brasil e Emirados Árabes o fizeram até agora.
“A cúpula poderia servir para pressionar membros como Índia, China e Rússia a se comprometerem com as revisões. Seria simbólico e estratégico para salvar o Acordo de Paris, que vive um momento de fragilidade”, afirmou Maureen.
Energia e transição justa
Apesar de a maioria dos países do Brics ainda ter grande dependência de combustíveis fósseis — como petróleo e gás — o grupo tem se manifestado oficialmente a favor da transição para uma economia de baixo carbono. A ideia, segundo o professor Antonio Jorge Ramalho da Rocha, da UnB, é usar a receita gerada por combustíveis fósseis para financiar fontes de energia limpa.
“Há o reconhecimento de que a transição precisa ser justa e equilibrada, sem provocar colapsos econômicos. Mas isso também exige coragem política para cortar subsídios e enfrentar interesses poderosos da indústria de petróleo”, afirmou o professor.
O desafio, segundo ele, é fazer com que os compromissos não fiquem apenas no papel. “A tendência é de adiamentos, mas o Brics pode sinalizar uma virada se houver mobilização conjunta e foco em propostas concretas.”
* Da Agência Fonte Exclusiva. Compartilhe esta reportagem do Giro Capixaba, o melhor site de notícias do Estado do Espírito Santo.