No início de 2024, Laura Maria de Oliveira, de 59 anos, comemorava sua recente contratação como empregada doméstica com carteira assinada. Porém, um trajeto rotineiro em uma moto por aplicativo mudou sua vida. Um acidente causado por um carro que trocou de faixa sem sinalizar a deixou com múltiplas fraturas e sequelas que a afastaram do trabalho por tempo indeterminado.
O caso de Laura representa uma realidade cada vez mais comum no Brasil: o uso crescente das motocicletas como alternativa de mobilidade e renda tem resultado em uma verdadeira epidemia de acidentes. Segundo a Abraciclo, a frota de motos cresceu 42% entre 2015 e 2024, atingindo 35 milhões de unidades. Em 2023, motos estiveram envolvidas em 38,6% das mortes no trânsito, embora representem apenas 22,5% da frota de veículos.
Para especialistas como Victor Pavarino, da OPAS, o crescimento das motos reflete a negligência histórica com o transporte público. Em cidades mal servidas por ônibus e metrôs, especialmente nas periferias, a motocicleta se torna a única opção viável de deslocamento — apesar dos riscos.
Além das mortes, há impactos severos sobre o SUS: entre 70% e 75% dos leitos de UTI em emergências hospitalares estão ocupados por vítimas do trânsito, majoritariamente motociclistas. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, classificou a situação como uma “epidemia” e defendeu ações imediatas, como fiscalização rigorosa, melhorias na infraestrutura viária, campanhas educativas e parcerias com apps de transporte.
A OPAS também recomenda ações estruturais, como transporte público gratuito, incentivo ao uso de bicicletas e pedestres, e regulamentação do transporte por motos. Dados da Senatran mostram que metade dos motociclistas não possui habilitação.
Sem soluções estruturais, o Brasil continuará pagando um alto preço — em vidas e em recursos públicos — pela mobilidade de duas rodas.
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