O financiamento climático estará no centro das discussões da COP30, que será realizada em Belém (PA), em novembro de 2025. Países em desenvolvimento, como o Brasil, tentam garantir ao menos US$ 1,3 trilhão por ano em recursos dos países mais ricos. Mas, apesar dos avanços, os investimentos em florestas ainda são muito baixos no cenário nacional.
Segundo levantamento divulgado nesta semana pelo Climate Policy Initiative (CPI), ligado à PUC-Rio, apenas 2% do financiamento climático internacional recebido pelo Brasil foi destinado às florestas tropicais entre 2021 e 2022. Isso representa cerca de R$ 623 milhões por ano.
Joana Chiavari, diretora do CPI/PUC-Rio e especialista em Direito Ambiental, afirma que as florestas devem ser vistas como parte essencial da solução climática global. “Elas podem tanto emitir quanto capturar CO2, dependendo da forma como são geridas. Por isso, sua preservação e restauração são estratégicas para enfrentar a crise climática”, destaca.
Capital privado ainda resiste ao setor florestal
O setor que inclui florestas, agricultura, pesca e uso da terra ainda enfrenta dificuldades para atrair investimentos privados. De acordo com Chiavari, isso se deve à menor viabilidade comercial e aos retornos de longo prazo. No entanto, ela ressalta que o interesse global vem crescendo: o financiamento climático para esse segmento aumentou 286% entre 2018 e 2023, impulsionado principalmente por fundos públicos e concessões.
Financiamento climático ao Brasil cresceu 84%
Entre 2021 e 2022, o Brasil recebeu R$ 26,6 bilhões por ano em financiamento climático internacional — um aumento de 84% em relação ao período anterior (2019–2020). Esse desempenho supera a média global, que cresceu 28% no mesmo intervalo.
A Europa Ocidental foi a principal fonte dos recursos, com 50% do total, seguida pela América Latina e Caribe (18,2%). Entre os países, a França liderou (13%), seguida por China (11,6%), Espanha (10%), Reino Unido (9,5%) e Estados Unidos (9%).
Do total mobilizado, 58% vieram de instituições públicas (R$ 15,4 bilhões) e 42% de instituições privadas (R$ 11,2 bilhões) — este último com crescimento expressivo em relação ao período anterior.
Setores mais beneficiados e tipos de financiamento
O setor de energia foi o maior beneficiado, com 53% dos recursos (R$ 14 bilhões), sobretudo em projetos de energia solar e eólica. Em seguida, vieram os setores intersetoriais (20%), agropecuária, florestas e pesca (11%), transporte (11%) e água e saneamento (5%).
Dentro do setor de uso da terra, a agricultura recebeu 72% dos recursos (R$ 2,11 bilhões), enquanto as florestas ficaram com apenas R$ 623 milhões, apesar de serem responsáveis por cerca de 75% das emissões de gases de efeito estufa no Brasil, segundo o SEEG.
Os instrumentos de financiamento utilizados foram:
- Crédito comum: R$ 17,28 bilhões
- Equity (participação acionária): R$ 6,42 bilhões
- Crédito concessional: R$ 1,68 bilhão
- Doações: R$ 820 milhões
Mitigação recebe 80% dos recursos; adaptação fica com 5%
A maior parte dos recursos (80%) foi destinada exclusivamente à mitigação das mudanças climáticas — ou seja, à redução das emissões de gases de efeito estufa. Apenas 5% (R$ 1,4 bilhão) foram voltados à adaptação climática, que busca reduzir a vulnerabilidade de ecossistemas e populações. Outros 14% dos recursos tiveram uso combinado.
Iniciativas para atrair capital estrangeiro
A pesquisa também destaca que o governo brasileiro vem adotando medidas para atrair investimentos alinhados à agenda climática. Entre as iniciativas estão a Plataforma de Investimentos Climáticos e Transformação Ecológica (BIP), o programa Eco Invest Brasil e a emissão de títulos sustentáveis.
“Compreender o cenário atual do financiamento climático é essencial para medir o impacto dessas ações e ampliar sua efetividade”, conclui Joana Chiavari.
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