Uma investigação jornalística conduzida pelo Diário da Guanabara, em parceria com a Agência Fonte Exclusiva, revelou com exclusividade trechos do relatório final da Operação Chopp, que investiga um esquema de corrupção milionário na prefeitura de Presidente Kennedy, no sul do Espírito Santo.
O conteúdo integra o quinto capítulo da série de reportagens “República dos Royalties”, que tem revelado fraudes, desvio de dinheiro público e a atuação de grupos empresariais e servidores públicos no esquema. O material obtido pelos jornalistas foi entregue ao Ministério Público Estadual (MPES), que agora avalia a possibilidade de abrir novos inquéritos e aprofundar as apurações.
Apesar do indiciamento de oito pessoas, figuras centrais do esquema seguem sem responsabilização direta. A expectativa é que a Polícia Federal entre no caso, diante da possível blindagem política e da dimensão dos crimes, que podem atingir autoridades com mandato.
Mais de R$ 26 milhões desviados
Segundo o relatório obtido pelo Diário da Guanabara, mais de R$ 26 milhões foram movimentados por uma rede de empresas de fachada, “laranjas”, servidores públicos e empresários ocultos, entre novembro de 2022 e abril de 2024. Ao menos R$ 11 milhões saíram diretamente dos cofres públicos do município por meio de contratos de pavimentação.
A investigação teve como ponto de partida a denúncia de Welter José da Costa, que admitiu à polícia ter sido usado como “laranja” da empresa Shark Negócios e Empreendimentos Ltda — criada, segundo ele, para fraudar licitações com o aval de servidores municipais.
“Chopp” como código para propina
Conversas de WhatsApp analisadas pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (DRACO) revelam o uso de eufemismos como “chopp” para se referir à propina. Em um dos diálogos, a servidora Gabriella Ferreira Dias pergunta ao fiscal de obras Carlos Henrique Goulart de Lana:
“Depois ver com nosso amigo, se depois que sair lá, ele paga o chopp?”
De acordo com o relatório, Gabriella e Carlos recebiam uma “taxa de agilidade” para acelerar medições e liberar pagamentos. Parte desses valores — mais de R$ 629 mil — foi depositada na conta de Gabriel Nazareth de Lana, filho do fiscal, para ocultar a origem do dinheiro.
Segundo levantamento, os dois servidores continuam nomeados em suas respectivas funções como cargos comissionados.
Empresas de fachada e sócios ocultos
A Shark Negócios, segundo o inquérito policial, sucedeu outras empresas de fachada como a Lopes do Brasil Construtora Ltda, utilizadas com o mesmo propósito: fraudar a competitividade de licitações. O relatório cita como verdadeiros controladores da operação os empresários:
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Gilbert Wagner Antunes Lopes (Waguinho)
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Samuel de Carvalho Oliveira
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Elizeu Siqueira
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Leonardo Rios Batista (Leo Goela)
Eles articulavam a relação com agentes públicos e o repasse da propina. Novos nomes e empresas foram mencionados nas investigações, entre elas Queen Empreendimentos Ltda, Thor Construtora, RDJ Engenharia e IPE Engenharia, que podem ser alvo de futuros inquéritos, conforme recomendação do delegado Tarik Halabi Souki. Mas essas quatro pessoas citadas não foram indiciadas no relatório da Draco.
Série investigativa continua
A série “República dos Royalties” — produzida pelo Diário da Guanabara, com o apoio da Agência Fonte Exclusiva — continuará apurando o caso com novas reportagens, ouvindo fontes, testemunhas e revelando documentos.
O objetivo é lançar luz sobre a atuação de figurões e políticos influentes que, até o momento, não foram formalmente responsabilizados, apesar dos indícios.
O escândalo envolve uma das cidades mais ricas do Espírito Santo em arrecadação de royalties do petróleo, mas que convive com carência nos serviços públicos básicos. Na rede municipal de saúde, por exemplo, pacientes reclama de falta de medicamentos e insumos básicos. Na educação, até este mês de julho as crianças ainda não receberam os uniformes para o ano letivo de 2025. São as duas pastas com maior orçamento e gastos na estrutura administrativa.
O material obtido na série de reportagens mostra que a corrupção estruturada em Presidente Kennedy pode ter ramificações que alcançam instâncias do governo estadual e da Assembleia Legislativa. Por isso, há um grande temos de que a Polícia Federal, Receita Federal e a Controladoria-Geral da União entrem nas investigações nos casos que exijam a participação desses órgãos.
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