Nesta semana, o Rio de Janeiro foi palco de uma discussão urgente e global: o enfrentamento da desinformação. A cidade recebeu a 12ª edição do Global Fact, a maior conferência de checadores de fatos do mundo, organizada pelo International Fact-Checking Network (IFCN), ligado ao Instituto Poynter.
Durante o evento, que teve cobertura especial da Agência Brasil e da EBC, jornalistas, pesquisadores e especialistas em tecnologia debateram as estratégias para conter a disseminação de informações falsas — um fenômeno que, segundo os participantes, vai além das fake news casuais e se configura como um projeto político baseado em manipulação e confusão.
A diretora do IFCN, Angie Drobnic Holan, conversou com a Agência Brasil ao final da conferência e destacou a urgência de um ecossistema informacional mais ético, seguro e transparente.
“As pessoas querem liberdade para explorar ideias, mas ninguém defende ser enganado. É nesse ponto que os checadores se posicionam, com seus princípios éticos”, afirmou Angie.
Inteligência artificial e big techs no centro do debate
Entre os temas mais discutidos no evento, dois se destacaram: a regulação das big techs e o impacto da inteligência artificial na circulação de informações.
Angie Holan reconheceu que o poder de distribuição da informação migrou para as plataformas digitais, que nem sempre aplicam os mesmos critérios de qualidade jornalística. Para ela, ainda que o jornalismo tenha perdido parte desse poder, a credibilidade continua sendo um trunfo essencial.
“As empresas de tecnologia dizem estar tomando medidas, mas será que elas são suficientes? Nenhuma empresa está acima de restrições”, pontuou, referindo-se ao debate jurídico ocorrido no Brasil sobre a responsabilidade das plataformas.
No caso da inteligência artificial, a preocupação se mistura com a oportunidade. Checadores já utilizam ferramentas automatizadas, mas alertam que a IA também é usada para criar conteúdos falsos cada vez mais sofisticados, dificultando o trabalho de verificação.
Educação midiática e responsabilidade coletiva
Holan destacou que o combate à desinformação não depende apenas de jornalistas ou empresas: envolve toda a sociedade, especialmente os sistemas educacionais e os próprios consumidores de conteúdo.
“As pessoas precisam aprender a reconhecer fontes confiáveis. O jornalismo precisa ser apoiado e valorizado como parte essencial da democracia”, disse.
Ela elogiou o trabalho realizado por organizações brasileiras de checagem como Aos Fatos, Estadão Verifica, Lupa e UOL Confere, e incentivou o público a consultar seus conteúdos, que sempre trazem as fontes usadas nas investigações.
Cobertura de conflitos e o desafio da precisão
Outra frente abordada na conferência foi a verificação de fatos em contextos de guerra, como os conflitos entre Rússia e Ucrânia, e no Oriente Médio. Para Angie Holan, o trabalho nesses cenários é particularmente difícil, pois governos atuam ativamente para distorcer informações e o acesso a dados confiáveis é restrito.
“Relatos iniciais costumam ser imprecisos. Ainda assim, os checadores fazem o possível para verificar o que pode ser confirmado de imediato — e o que pode ser desmascarado como manipulação ou conteúdo gerado por IA.”
Uma comunidade internacional em defesa da verdade
Desde seu início, em 2014, o Global Fact tornou-se um espaço de troca de experiências entre jornalistas de diversas culturas, unificados pelo mesmo propósito: fortalecer o jornalismo baseado em fatos.
“A conferência nos reenergiza. Construímos uma comunidade que compartilha práticas, códigos e um compromisso com a verdade factual. A diversidade de vozes e línguas aqui reunidas é a força do nosso trabalho”, concluiu Holan.
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