A tragédia envolvendo a brasileira Juliana Marins, de 26 anos, que caiu de um penhasco no Monte Rinjani, na ilha de Lombok, Indonésia, trouxe à tona os riscos de trilhas mal planejadas e a ausência de protocolos mínimos de segurança em roteiros turísticos de aventura. O corpo da jovem foi encontrado nesta terça-feira (24), três dias após sua queda.
A montanha, com 3.726 metros de altitude, é um dos principais destinos para trilheiros no sudeste asiático, mas esconde perigos pouco visíveis nas belas paisagens que a cercam.
A triatleta e maratonista Isabel Leoni, que percorreu a mesma trilha em 2015, relata que subestimou a dificuldade e o clima hostil do local. “A gente acha que está chegando, que é fácil, mas a trilha exige muito preparo técnico e físico. Faltam informações claras e a estrutura é precária”, afirmou à Agência Brasil.
Segundo Isabel, ela e dois amigos enfrentaram frio extremo, falta de água e comida e guias pouco informados. “Eles faziam a trilha de chinelo. Não há exigência de equipamentos como casacos adequados, saco de dormir, lanterna. É tudo muito improvisado.”
Trilha desafiadora e desorganizada
A rota do Rinjani é dividida em três dias. No primeiro, sobe-se até a crista da cratera e dorme-se ali. No segundo, desce-se até o lago Segara Anak — considerado sagrado por comunidades locais — e no terceiro, sobe-se uma nova crista para iniciar a descida. “O frio era insuportável, e a areia fofa dificultava a subida. A altitude e a poeira tornavam tudo mais difícil. Meus dedos congelaram”, lembra Isabel, que não conseguiu chegar ao cume.
O presidente da Associação Brasileira de Guias de Montanha, Silvio Neto, reforça que o problema é recorrente e tem aumentado com o apelo das redes sociais. “As pessoas vão mal informadas. Fazem trilha de chinelo, sem água, sem preparo físico. Muitas só querem postar uma foto bonita, mas esquecem que é uma atividade de risco.”
Segundo ele, a falta de planejamento e conhecimento técnico é o que mais contribui para acidentes como o de Juliana. “O montanhismo é uma experiência de conexão com a natureza, não um palco de vaidade. A busca por likes não pode se sobrepor à segurança.”
Natureza sagrada, mas exigente
O Monte Rinjani é considerado sagrado pelas comunidades Sasak e balinesas. O lago Segara Anak, que se formou após erupções vulcânicas, significa “Filho do Mar” em indonésio. Suas águas são usadas em rituais e cerimônias espirituais.
Apesar da beleza e do valor cultural, o local carece de estrutura adequada para receber turistas de forma segura. A morte de Juliana expõe a necessidade de revisão urgente nos protocolos de segurança, tanto por parte das agências locais quanto dos próprios viajantes.
Um alerta para todos
A tragédia reacende a discussão sobre responsabilidade no turismo de aventura. Especialistas defendem mais regulamentação internacional, certificação de guias e educação do público.
“É essencial que o turista saiba no que está se metendo. Pesquisar, perguntar, preparar o corpo e a mente. E, principalmente, respeitar a montanha”, conclui Silvio Neto.
*Com informação da Agência Brasil. Compartilhe esta reportagem do Giro Capixaba, o melhor site de notícias do Estado do Espírito Santo.
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