Expressões brasileiras ganhando espaço entre os jovens lusitanos, o ritmo do funk e do sertanejo dominando festas locais e, mais recentemente, a adoção de um sistema de pagamentos semelhante ao Pix são somente alguns dos sinais dessa transformação cultural e tecnológica.
Entre memes e reflexões mais sérias, muitos brasileiros passaram a brincar com a ideia de que Portugal estaria virando a “Guiana Brasileira” uma inversão simbólica do passado colonial que levanta discussões sobre imigração, integração e xenofobia.
Cultura brasileira em alta
A presença brasileira em Portugal cresceu exponencialmente na última década. Conforme o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), já são mais de 500 mil brasileiros legalizados vivendo no país. Nas ruas de Lisboa, Porto e outras cidades, o sotaque, as gírias e os costumes do Brasil estão cada vez mais presentes.
Além da linguagem informal, festas com funk, pagode e forró universitário se popularizaram, principalmente entre o público jovem. Negócios de brasileiros, como salões de beleza, bares, academias e restaurantes, se multiplicam em centros urbanos e em regiões periféricas.
Essa influência também se reflete na mídia e nas redes sociais, com youtubers, influenciadores e artistas brasileiros figurando entre os mais consumidos por portugueses.
Pix: tecnologia brasileira que cruzou o Atlântico
Criado em 2020 pelo Banco Central do Brasil, o Pix revolucionou os pagamentos no país ao oferecer transferências instantâneas e gratuitas 24 horas por dia. O modelo chamou atenção internacional, inclusive em Portugal, onde o sistema bancário ainda se apoia majoritariamente em transferências tradicionais, como o IBAN.
Nos últimos anos, fintechs e instituições financeiras portuguesas passaram a adotar tecnologias semelhantes, inspiradas no Pix, com QR codes e transações em tempo real. Em 2024, o governo português chegou a anunciar que avaliava a implementação de um sistema oficial de pagamentos instantâneos.
Especialistas apontam que a adesão ao modelo brasileiro é um reflexo não somente da eficiência da solução, mas também da crescente presença e influência dos consumidores brasileiros no mercado local.
A outra face da integração: preconceito e xenofobia
Apesar do impacto positivo em muitos setores, a presença brasileira em Portugal também expõe um cenário de tensões sociais. Relatos de xenofobia, discriminação no mercado de trabalho e estigmatização de mulheres brasileiras são recorrentes.
Pesquisas e reportagens indicam que, em alguns setores da sociedade portuguesa, há um incômodo com o que chamam de “abrasileiramento” do país. Grupos mais conservadores têm utilizado essa percepção como argumento para endurecer políticas migratórias.
Na política, o partido de extrema-direita chega argumentando sobre esse sentimento, propondo restrições à imigração e discursos que, segundo analistas, flertam com a xenofobia. Por outro lado, movimentos antirracistas, ONGs e representantes da comunidade imigrante pressionam o governo por políticas mais inclusivas e pela ampliação dos direitos dos estrangeiros.
Um novo capítulo nas relações Brasil–Portugal
A piada sobre Portugal estar se tornando uma “colônia cultural do Brasil” pode soar exagerada, mas reflete mudanças significativas. A relação entre os dois países lusófonos está em constante transformação, marcada hoje por uma troca mais horizontal e não mais dominada pelo peso histórico do colonialismo.
Enquanto o Brasil exporta cultura, soluções digitais e um modo de vida cada vez mais globalizado, Portugal se torna um território receptivo (ainda que com resistências) a essas influências.
O desafio está em equilibrar essa convivência com respeito, inclusão e justiça social para que o que começou como meme nas redes não se transforme em um sintoma de uma sociedade dividida.