O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu, nesta sexta-feira (13), que a Organização das Nações Unidas (ONU) assuma o financiamento da missão de segurança atualmente em curso no Haiti, ou que organize uma nova operação de paz no país caribenho. O apelo foi feito durante a Cúpula Brasil-Caribe, realizada no Palácio Itamaraty, em Brasília.
Segundo Lula, a atual situação do Haiti, dominado por gangues armadas que controlam boa parte da capital Porto Príncipe, exige uma resposta coordenada da comunidade internacional. “O Haiti não pode ser punido eternamente por ter sido o primeiro país das Américas a conquistar sua independência”, afirmou o presidente.
“Se ontem a punição veio sob forma de indenizações injustas e ingerência externa, hoje se reflete em postura de abandono e indiferença”, declarou.
O Brasil apoia a conversão da Missão Multinacional de Apoio à Segurança (MSS) — atualmente liderada pelo Quênia e composta por contribuições voluntárias — em uma operação oficial das Nações Unidas.
Além disso, Lula anunciou que a Polícia Federal brasileira iniciará em breve o treinamento de 400 policiais haitianos, como parte da colaboração para restaurar a segurança no país. O presidente também colocou o Brasil à disposição para cooperar na organização das eleições presidenciais haitianas, próximas etapas do processo de reconstrução institucional.
Apoio humanitário e histórico de cooperação
O presidente lembrou que o Brasil liderou a Minustah, missão de paz da ONU no Haiti entre 2004 e 2017, e que foi o primeiro país a contribuir com US$ 55 milhões para o fundo de reconstrução após o terremoto de 2010.
Desde 2012, o Brasil concedeu mais de 90 mil vistos humanitários a haitianos, destacou Lula. Ele também anunciou a criação de um programa de transferência de renda, com apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), como parte dos projetos-piloto da Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, que terá o Haiti e a República Dominicana como os primeiros beneficiados.
Clima, energia e integração regional
Outro destaque da Cúpula foi a cooperação ambiental e energética. Lula pediu metas ambiciosas para redução de emissões a serem apresentadas na COP30, que será realizada em novembro em Belém (PA).
Ele afirmou que o Brasil e a Dinamarca estão liderando uma iniciativa para ajudar os países caribenhos na elaboração de metas climáticas. O Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) vai colaborar no monitoramento do nível do mar, compartilhando imagens de satélites sino-brasileiros com os países do Caribe.
“Avançar na adaptação à mudança do clima é uma questão existencial para os pequenos países insulares”, disse Lula, cobrando financiamento justo dos países ricos.
Na área de energia, o presidente destacou o potencial do Caribe em energia solar e eólica, anunciando o envio de uma missão do Ministério de Minas e Energia e da Empresa de Pesquisa Energética para avaliar oportunidades de parceria.
Segurança alimentar e conectividade
Lula alertou que a fome ainda afeta mais de 12 milhões de pessoas no Caribe e reafirmou o compromisso do Brasil com a Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, que agora inclui Santa Lúcia, Cuba e o Banco de Desenvolvimento do Caribe.
Ele propôs que os países caribenhos participem da Rede de Sistemas Públicos de Abastecimento para garantir segurança alimentar, com base na experiência brasileira em estoques públicos de alimentos.
O presidente também ressaltou a necessidade de melhorar as conexões físicas e logísticas entre o Brasil e o Caribe, uma vez que a maioria das importações caribenhas vem de Estados Unidos, China e Alemanha, mesmo com a proximidade geográfica com os portos do Norte e Nordeste do Brasil.
Para melhorar essa conectividade, anunciou investimentos do programa Rota da Integração Sul-Americana e mencionou que US$ 3 bilhões da carteira brasileira no BID serão destinados a projetos regionais — parte já aplicada na Guiana e no Suriname.
Cooperação ampliada
Durante a Cúpula, também foram assinados novos acordos aéreos com Barbados e Suriname. O Brasil anunciou um aporte de US$ 5 milhões ao Fundo Especial do Banco de Desenvolvimento do Caribe, destinado a países mais vulneráveis da região.
Encerrando seu discurso, Lula reafirmou o compromisso do Brasil com a integração regional, criticou o embargo a Cuba e a “descabida inclusão” do país em listas de apoio ao terrorismo.
“O mundo precisa de vozes que defendam o justo e o sensato. O Brasil sempre enxergou essa vocação no Caribe”, concluiu Lula.
Com informação da Agência Brasil. Compartilhe esta reportagem do Giro Capixaba, o melhor site de notícias do Estado do Espírito Santo.